30 dezembro 2005

A Natureza é sábia

Quando chega a hora de os filhos cuidarem dos pais é sempre tarde de mais.

15 dezembro 2005

Bem-vindo, homem!

Obviamente, não faço ideia se o homem é culpado ou inocente. Mas gosto da presunção de inocência e de tribunais o mais justos possível. Não é que não se passem coisas parecidas em Portugal, mas a novela que foi a detenção do piloto português na Venezuela faz-me ficar satisfeito pela absolvição.

Bem-vindo, bom Natal e... olhos bem abertos, senhor piloto!

14 dezembro 2005

Um copo por Tookie Williams

Como não acendo velas, não rezo e não acredito em formulação de desejos (ao contrário de quem ainda mata «legalmente» no Mundo), neste Natal vou erguer um copo de vinho a Tookie Williams.

E vou deixar a pergunta: para que servem as prisões se só se acreditar no «olho por olho e dente por dente»? O conceito de regeneração é o único que faz sentido num Estado de Direito.

Não abomino os Estados Unidos, deixei-me há uns anos de anti-americanismos primários ou secundários, mas continua a haver contradições assustadoras na alegada Pátria da Liberdade.

Enfim, o único consolo é que nunca gostei dos filmes desse animal (no mau sentido) que foi eleito para governador da Califórnia. Vê-se à légua que há ali qualquer coisa de cruel, violento e estúpido. Nem como irmão gémeo mais velho do Danny de Vito conseguiu ter piada, o cabrão.

Cheers, Tookie. Valeu.

12 dezembro 2005

E você, é «senhor»?

E pronto, lá está outra vez o flash-entrevistador da TV a dizer «senhor Koeman». É sempre assim, os estrangeiros são senhores, os nossos são «fulano de tal».

Isto não tem ponta de xenofobia, cruz credo vade retro, mas é um bocado irritante nunca ouvir «senhor Augusto Inácio» ou «senhor Ulisses Morais» ou «senhor Paulo Bento» e depois ter de aturar o «senhor Trapattoni», o «senhor Adriaanse» (este então, olha olha...), o «senhor Babilu de Bourbon».

Tem piada: os treinadores brasileiros, apesar de estrangeiros, também não chegam a senhores. Não devem sentir-se nada bem, até porque ao contrário dos que são chamados de «senhores» até percebem um caracol de Português...

Alguém me explica?

04 dezembro 2005

Mania das grandezas


Gosto quando a física ou outras forças da Natureza dão lições aos Homens. E gosto sobretudo quando as características humanas se mimetizam nas obras humanas.

Este prédio tem 508 metros e é o mais alto do Mundo. Fica em Taipei, capital de Taiwan, que por acaso passou a sofrer mais abalos sísmicos desde a construção da torre. Ou seja: a mania das grandezas é SEMPRE prejudicial. Isto vê-se bem no dia-a-dia, é certo, mas a lição de moral do betão não deixa de ter piada.

03 dezembro 2005

Lições de Valdano

Os sete leitores deste blogue (continuamos a subir) sabem decerto quem é Jorge Valdano, portanto passo à frente: na sua coluna semanal do diário espanhol «Marca», este sábado, o argentino-espanhol fala de uma equipa de futebol, mas podia falar de qualquer outra organização ou estrutura do seguinte genial modo:

«Nessas situações [difíceis, de derrotas consecutivas] impõe-se o lado mais obscuro da personalidade de cada um. O preguiçoso distrai-se com o ócio, o intriguista com a conspiração, o irresponsável com as desculpas, o o adulador com a vaidade alheia, o vaidoso com a própria vaidade...»

Como eles gostavam de ser do Alavés...

Um tal de Piterman, ucraniano, é accionista maioritário do Alavés, clube de futebol espanhol. Após semanas de guerra com os jornalistas (que original!), decidiu agora que para realizar entrevistas a jogadores os repórteres têm de ser sócios do clube! Quantos, em Portugal, não sonhavam poder fazer o mesmo?...

Porra, que não entendem!

Para os católicos e a sua igreja, tudo o que não seja dominar os outros e pairar acima do comum não serve. Por que raio é que acham que retirar crucifixos das escolas (por acaso e felizmente já eram só 20) equivale a negar a importância da cristandade na História dos homens e de Portugal?

O Benfica também conquistou a Europa e a Amália o Mundo e nem por isso temos de ter fotografias deles nas paredes das escolas. O conceito de liberdade faz muita confusão a muita gente. Os católicos fundamentalistas (ou seja, os que se preocupam com os crucifixos) estão claramente entre esta gente. Desculpem a rispidez, mas gostava mesmo que percebessem o que significa viver num Estado laico. E que soubessem distinguir entre liberdade religiosa PARA TODOS e aquilo que é o procedimento da Igreja Católica desde os primórdios da História.

Eu não sou religioso, admito que tu sejas; tu és e queres que eu seja como tu, sob pena de arder nos quintos dos Infernos com um preservativo enfiado na pila. Desculpa lá, mas as cruzadas acabaram há uns anos.

01 dezembro 2005

Soa bem


Será que «Tender Trap» (belo nome) desta portuguesíssima Marta Hugon soa mesmo tão bem como parece? É Natal, ajudem-me lá a perceber...

28 novembro 2005

Critérios

Televisão portuguesa em canal aberto. Sporting-V. Guimarães. Quase 25 mil espectadores. Comentário: «Os adeptos sportinguistas a não responderem à chamada.»

O mesmo canal, horas mais tarde. Resumo do Benfica-Belenenses. Cerca de 27 mil espectadores. Comentário: «Os adeptos do Benfica a marcarem forte presença.»

Explicação: a barreira está nos 25 ou nos 26 mil. Não comecem já a ver fantasmas...

27 novembro 2005

Crucifixos

30 anos e alguns meses depois da Assembleia Constituinte, o Governo ordenou a retirada de crucifixos das escolas públicas deste Estado alegadamente laico.

Na rádio, a notícia era complementada com um «a Conferência Episcopal diz que nada sabe sobre o assunto». Perguntinha inocente: e tinha de saber o quê?

Nunca me fartarei

O sonho era pintar isto tudo de vermelho.

O objectivo é pintar muito mais.

O bom disto é que a maioria das viagens derivam da profissão. E é bom quando uma profissão nos dá uma das coisas de que mais gostamos na vida.



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24 novembro 2005

Hoje sou do DN!

Manchetes de hoje:

PÚBLICO
Cavaco aumenta vantagem
para vitória à primeira
(Cavaco 57%, Alegre 17%, Soares 16%)

DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Cavaco Silva mais longe
da vitória à primeira volta
(Cavaco 44%, Alegre 14,6%, Soares 10,6%)

Por um dia, viva o DN!

Cada vez menos Alegre

Tenho andado aos ziguezagues com a candidatura de Manuel Alegre. Comecei por não dar importância, depois pareceu-me a Salvação Nacional, agora começa a irritar-me. Deve ser por isto que há pré-pré-campanha, pré-campanha e finalmente campanha, não é? Se todos tivéssemos muitas certezas votava-se logo e pronto.

Explico, em resumo: para começar, Alegre não o é muito. E tem-se comportado, cada vez mais, como um ressabiado em relação a Soares. Fez birra e não votou o orçamento (coisa pouco importante). É meio antipático, chega a mostrar-se bruto lá do alto da sua alegada superioridade intelectual e moral. Agora sugeriu que os comentadores (COMENTADORES, estão a ver o que é?) se abstivessem de escrever nos jornais por, diz, bipolarizarem as presidenciais.

É, caro Manuel, a liberdade de expressão tem estes problemas: nem sempre os outros dizem e fazem o que queremos. Há muitos anos, um poeta lembrava que «há sempre alguém que diz não»... Não se esqueça é que a liberdade de dizer não é tão importante como a de dizer «sim». Não perca votos desnecessariamente!

23 novembro 2005

A ver se eu percebo...

1) Se o sacerdócio na Igreja Católica implica o celibato, que influência tem o facto de o padre ser homo ou heterossexual?

2) A nova cartilha Ratzingeriana (foi só o outro morrer, este reaça andava doido...) diz que os sacerdotes que já exerçam não serão expulsos. Mas espera aí: se o sacerdócio na Igreja Católica implica o celibato, COMO SABEM se um padre é ou não homossexual?

3) Um padre português explicou que esta não aceitação de homossexuais tem a ver com respeito para com as mulheres da Igreja (deve referir-se às que vão à missa e às que limpam os bancos e o chão); se um dia (o que não é provável, com esta abertura ao Mundo) houver mulheres no sacerdócio, podem ser lésbicas ou isso atenta contra os homens?

4) Quando chegar ao século XXI será que a Igreja ainda cá nos encontra?

19 novembro 2005

Juro que não é embirração

Ao contrário da maioria dos portugueses que apesar de tudo o compram, não embirro especialmente com o Expresso, embora hoje até pareça. Mas acompanhem o meu raciocínio por sete segundos:

Título: Ota já tem nome

Texto: «A maioria dos portugueses considera que o novo aeroporto da Ota deverá chamar-se (...) »

Com muito jeitinho, percebe-se que o Governo encomendou uma sondagem «aos portugueses» (a mim não perguntaram nada, outra vez) e presume-se, apenas se presume, que a vai levar em linha de conta para denominar o aeroporto. Ora, eu não compro o jornal para presumir, mas para me dizerem.

Já agora: Ota já tem nome? Pois, assim de repente... é Ota. Será, Monsieur de La Palice?

Estão a ver? É por isto...

José António Saraiva, descendente intelectual directo e em primeiro grau de Monsieur de La Palice, derrapa sempre que tenta fugir aos lugares comuns.

Na edição de hoje, fala do beijo (e não beijos despudorados e carícias contínuas, como se tem querido fazer crer em prestigiadas colunas dos últimos dias) das duas miúdas da escola de Gaia. E fala comparando o episódio da escola com as seguintes situações: dois jornalistas do Expresso na sua redacção; dois militares numa parada; dois empregados de um hipermercado em plena área comercial.

Ou estou a ficar gagá, ou estas situações teriam comparação com a das miúdas SE ELAS SE TIVESSEM BEIJADO NUMA SALA DE AULA, entende, senhor de La Palice? O seu antecessor diria precisamente isto. Ou o senhor repreendia dois jornalistas do Expresso se trocassem um beijo no bar? (É troca de beijos e mãos dadas que a escola proíbe por decreto, não é marmelada despudorada, que isso também os alunos se dispensam de fazer à frente de toda a gente). Ou será que dois empregados do Continente não se podem beijar no parque de estacionamento?

É por isto que se torna absolutamente lamentável que Saraiva vá deixar a direcção do Expresso E CONTINUE COM O POLÍTICA À PORTUGUESA! Em Portugal é assim, nunca se resolve tudo de uma vez, fica sempre uma pontinha qualquer por desatar... A não ser lá na escola: dá a mão à namorada, vai ao director (mas não o do Expresso, embora até fizesse sentido).

18 novembro 2005

E portanto é isto que se ensina nas escolas...

A propósito dos sete milhões-sete de horas a que os professores faltaram durante o ano passado, dizia um daqueles sindicalistas que a gente de tanto ver até já esqueceu o nome: «A senhora ministra esqueceu-se de referir o número de horas que os professores cumpriram. Os professores não são diferentes dos outros funcionários públicos, o nível de absentismo é o mesmo, não é superior.»

Ou seja: se bem entendi o «stôr», se eu não cuspo para o chão mais vezes que o meu vizinho, não estou a fazer mal; se reciclo menos que o Gervásio e tão pouco como a malta do meu bairro, não tem problema, estou na média; se estaciono em cima das passadeiras não faço nada mais grave que grande parte dos outros automobilistas, portanto estou correcto.

É este tipo de sentido de responsabilidde e civismo que se aprende nas escolas portuguesas? A minha esperança é que este sindicalista seja como a maioria dos que a gente vai vendo: pouco mais que um corporativista, apesar de o ponto de partida político ficar nos antípodas do corporativismo. Pode ser que a maioria dos colegas, apesar de faltarem mais do que deviam, não pensem assim. E sobretudo não desensinem nem desformem assim.

Bom fim-de-semana, que para mim será de trabalho. Sem direito a faltas por decreto ou «artigo».

Bela capa, ainda assim



Jennifer Aniston teve o privilégio de ser eleita pela GQ «mulher do ano», na primeira iniciativa do género da revista. O divórcio, no fundo, está a render.

Mas isto vem só a propósito de uma lista que vale a pena espreitar e comentar, em desafio para todas as idades e sexos. (e na qual a Jenni não está... nem podia)

Ainda deve doer



Foto AP

Sarajevo tem uma luminosidade estranha. Há dois anos e qualquer coisa percorri esta avenida, a dos «snipers», sempre à espera de ouvir um tiro. Vi os prédios destruídos. Testemunhei as marcas de uma guerra que passara na televisão oito anos antes. E afinal ela tinha sido aqui tão perto. Olhei o verde das montanhas, debruado por aquele sol meio tímido, e tive medo que tivesse sobrado algum sérvio dos que cercaram a cidade.

Dez anos depois dos acordos de Dayton, lembro-me outra vez que a guerra e o ódio estiveram (e estão) aqui mesmo ao lado. Não é só no Afeganistão, onde ainda hoje morreu um soldado português, ou na África da qual fingimos gostar durante séculos. Foi mesmo aqui ao lado. É mesmo aqui ao lado. Acho que a luz do céu bósnio é fosca porque entre o sol e a terra pairam as dores de milhares e milhares de mortos e de milhares e milhares de sobreviventes.

15 novembro 2005

Até amanhã, camarada

Não, não éramos amigos. Amanhã vão aparecer muitos. E muitos deles nunca te chegaram a telefonar. Eu também não. Soube, como todos aqui, que estavas muito doente. Fui acompanhando «em diferido». Devia ter telefonado? Não sei. Também nunca poderei chegar a perguntar-te. Imagino apenas que quanto menos «estranhos» te perguntassem sobre o que não querias falar melhor para a tua vida.

Lembro-me de como estavas sempre armado em mal disposto, sobretudo quando a malta chegava de Lisboa, e de como esse ar rezingão escondia uma alegria grande de viver e meia dúzia de gargalhadas sempre prontas a sair para animar um dia quente de trabalho. Quente como o Algarve que também é teu e hoje te vai homenagear em silêncio. Como eu.

Gostei que me tenhas ajudado, ainda que esporadicamente, a amar a reportagem e os jornais, Carlos Vidigal. Um abraço, camarada.

É a tropaaaa!!!

Um dirigente associativo (não se diz sindical!) da Marinha, parece, foi PRESO três dias por ter falado mal das hierarquias da Armada. Começo por achar incrível que alguém ainda possa mandar prender alguém fora da esfera dos tribunais civis.

Abro a boca de espanto quando oiço um porta-voz da Marinha (ou Armada, ou como preferirem, mas por favor não me prendam) quando oiço, dizia, a constatação de que «a pena seria em princípio mais pesada, mas o clima emocional em que ele falou foi tomado como atenuante». O senhor deve estar muito agradecido por afinal poder mais ou menos falar. Enfim, tem atenuantes por falar quando está emocionado, pelo menos. Já não é mau.

Dou murros na minha própria cabeça quando oiço, depois, que as associações da Marinha/Armada (instituição se calhar fica bem) classificaram a atitude das chefias como «autoritária». Ora porra: mas há alguma coisa na tropa que não seja autoritária? E os «praças» não sabiam isso quando se alistaram?

08 novembro 2005

Dão cabo de tudo...


Foto AP
Na Somália têm-se multiplicado ataques de piratas a navios que têm o azar de passar ao largo. Mas reparem bem na foto: onde estão os lenços, os barcos de imponentes velas, as espadas, as pernas de pau, as vendas a tapar olhos perdidos noutras batalhas? Primeiro é o elefante que já não toca o sino, agora estes piratas de vão de escada. Dão cabo de tudo, o que vai ser do imaginário dos nossos filhos???

Porque ainda há diferenças

O novo livro de José Saramago é publicado em papel ecológico. Um pedido do Greenpeace que o nosso Nobel não só aceitou, como tornou viável, ao convencer os editores a utilizarem o material.

Estão a ver um escritor de direita a fazer isto? Ou mesmo alguém a pedir-lhe que o faça? Pois...

07 novembro 2005

Momento cor-de-rosa para desanuviar




Olha que engraçada e roliça é a Leonor, hein? Sim senhora... E a mãe continua linda. Viva España!!! (mesmo com reis e rainhas e princesas)












Foto AP

Medo

O que se tem passado à volta de Paris, depois já em Paris, agora também já na Alemanha e na Bélgica, assusta-me. Muito.

Era bom que entre a desculpabilização crónica das esquerdas e o militarismo das direitas, loucas por fazerem Exércitos entrar em cena, alguém começasse a perceber o que é preciso fazer. Mas temo que isso não aconteça.

Só em Portugal?

Com estas coisas não se brinca, por isso juro que não estou a troçar. Durante a tarde comentei que se a queda daquele viaduto em Granada fosse cá, diríamos rapidamente que «isto só em Portugal!». Bom, a verdade, acabo de ouvir escassas horas depois, é que a empresa da empreitada é portuguesa...

02 novembro 2005

Foda-se, eu desisto!

Perdão pela asneirona a abrir, mas depois do pitbull vi outra notícia, no mesmo jornal, que me faz desistir de continuar a ler a imprensa de hoje: nasceu um bebé no Big Brother holandês. Em directo. A mãe, poucos dias depois, abandonou a casa para salvaguardar a criança. Puta que a pariu!

Cães assassinos


Mais uma família foi atacada por um pitbull. No Parque das Nações, um animal com coleira e trela (embora sozinho, se calhar desistiu de passear o dono) mandou para o hospital mãe e duas filhas. A mais nova, de sete anos, levou 16 pontos na cara e no pescoço.

Foi apenas mais um caso. Vai continuar a haver casos destes. Só não percebo como é que ainda se deixa andar cães na rua sem açaime. Por mais mansos que sejam ou pareçam. «Os direitos dos animais»? Sim senhora, têm direito a viver livres... mas sem interferir com a minha liberdade. E desculpem lá, mas as ruas, os jardins, as praças e as esplanadas foram feitas pelo Homem, não pelo Cão. Isto é simples, mas há muito por aí quem não entenda. Como pode quem quer que seja pôr as mãos no fogo pelo que vai fazer um animal no momento seguinte?

Aos donos de pitbulls, rotweillers e outros cães assassinos, a minha palavra de completa intolerância. Fechava-os a todos, mais aos cães, em jaulas e eles que se entretivessem a provar que «são tão mansinhos, não fazem mal, muito menos a uma criança...». Tá bem abelha - o meu filho é que não se aproxima de um, se depender de mim!

01 novembro 2005

A máscara caiu ao Rio

Rui Rio, presidente reeleito da Câmara Municipal do Porto, estabeleceu «regras» de relacionamento com a comunicação social, admitindo apenas entrevistas por escrito e sobre os temas que entender serem importantes. Isto, trocado por miúdos, chama-se censura.

Titular de um cargo público, o que desde logo faz com que não seja só ele a decidir aquilo de que quer ou deve falar, Rui Rio pode, mesmo assim, não responder a todas as perguntas que lhe fazem. O povo que o elegeu julgará, depois, a atitude. O que não pode, de todo, é impedir os jornalistas de perguntar, determinando ele os temas das interpelações.

Diz o autarca que o JN deturpou palavras dele para fazer uma manchete. Essas coisas resolvem-se em sede própria e não podem servir para justificar, seja sob que pretexto for, um corte na liberdade de imprensa.

Rui Rio sempre pareceu uma pessoa séria e há quatro anos foi um fantástico e surpreendente vencedor da segunda autarquia mais importante do País. Nessa altura precisou dos jornais e dos jornalistas. Agora, suportado num segundo mandato e numa maioria absoluta, acha que já não precisa.

Bem vistas as coisas, se calhar a simpatia que Rio despertou aqui pelo sul do País só teve mesmo a ver com o facto de ter afrontado Pinto da Costa, o que faz dele uma espécie de herói solitário no Porto (o outro é Alexandre Magalhães, que vota sozinho contra as contas do FC Porto há duas décadas). Meter-se com o futebol é pouco, contudo. Rio vai perceber isso e um dia correrá a pedir uma entrevista para tentar fazer passar a sua mensagem. As máscaras caem com tanta facilidade...

P. S. - Quando o senhor aparecer a pedir batatinhas, vai ser engraçado perceber qual o primeiro órgão de comunicação a fingir que ele agora não fez nada.

30 outubro 2005

Mais leituras

Os jornais gratuitos que se distribuem nos transportes públicos de Lisboa fizeram aumentar os níveis de leitura dos cidadãos. Ao contrário de alguns intelectuais para quem será sempre melhor nunca ter lido uma linha do que espreitar um livro da Margarida Rebelo Pinto, acho que esta é uma boa notícia. Até porque estes jornais são, regra geral, bastante bem feitos.

29 outubro 2005

Blasfemo, «gay» ou ambos?

Desculpem os sensíveis: dizem que a nova campanha da Renova é blasfema porque paganiza símbolos cristãos em outdoors, mas cá para mim é estupidamente gay. O que não tem mal nenhum (tal como aquilo de que a acusam...)

Uma morena de olhos verdes, por favor!

Era apenas uma questão de tempo. Nos Estados Unidos já foi autorizada uma experiência na qual 50 casais vão escolher o sexo dos filhos.

Uma política de natalidade de Mao Tsé-Tung não faria melhor. Falta rapaziada? Homens, por favor! Há escassez de mulheres? Venham elas! Está farto de não ter com quem ver a bola lá em casa? Encomende um rapaz! Você, homem e pai, está complexado com o complexo de Édipo do seu filho varão? Mande vir uma garota, nem imagina como a mãe se vai roer de inveja!

Está bom de ver que isto da escolha do sexo é só o primeiro passo. A seguir vem a cor da pele, do cabelo, dos olhos. Ou seja, algo quase tão nojento como os cartazes do PNR com aquele puto loiro com ar de tudo menos de português, embora desconfie que essa era a ideia de quem concebeu o panfleto.

Sou muito contra isto, mas se não houver alternativa e ainda for vivo quero uma morena de olhos verdes, pode ser?

26 outubro 2005

Como é que se pode impugnar isto?

Numa altura em que podia ganhar vantagem sobre o Benfica em matéria de hinos, já que o novo da colectividade da Luz é cantando pelos UHF, eis que o Sporting escolhe os Delfins para cantarem o hino do centenário. OS DELFINS, porra. O responsável por isso não pode ir passar o Natal com José Peseiro, Paulo Andrade e Dias da Cunha? Por muito menos aquela gente saltou fora do clube...

25 outubro 2005

A estranha descoberta de que as aves morrem

Uma senhora de Peniche (de onde todas as TV emitiram ontem em directo porque, pasme-se!, apareceram umas gaivotas mortas, fenómeno que como se sabe nunca tinha ocorrido nos sítios onde há gaivotas, como Peniche ou as Berlengas) acha que os bichos «andam amochadinhos» este ano.

Um lisboeta viu um pombo morto no Conde Barão e chamou as autoridades, assustado com o estranho caso de um ser vivo que esticou o pernil, coisa pouco verosímil.

Um homem teve sintomas de gripe e foi internado (depois falem do entupimento das urgências).

Já passei palavra aos meus colegas: quando virem pombos mortos no Bairro Alto, antes de os mandarem para o Instituto Ricardo Jorge vejam bem se não têm marcas de pneus na carcaça... Mas mesmo assim é melhor ter cuidado, não vá o pombo ter sido atropelado por andar «amochadinho» devido à gripe.

Não têm mais nada com que se preocupar?

O que andas a ouvir aos 19 meses?

«Playlist» de J., 19 meses e uma saudável(?) fixação com DVDs musicais e CDs:

1.º - «O Galo é o Dono dos Ovos», Sérgio Godinho (versão DVD e CD, esta no carro; no caminho para a creche, de manhã, consegue ouvir em média seis/sete vezes)

2.º - «Re-Tratamento», Da Weasel (DVD, que a malta não tem o CD e AGORA NÃO QUER!)

3.º - «O Pastorinho», ex-aequo com «Joana Come a Papa», das Músicas da Carochinha (sobretudo DVD mas sim, há lá o CD...)

4.º - «Joana Come a Papa», José Barata Moura (single em vinil, gentilmente cedido pela candidata a tia que é homónima da menina da canção)

5.º - «Balada da Rita», Sérgio Godinho (CD; 20 a 30 segundos, até ouvir o nome da mãe e pedir o «Galo...», que a antecede no álbum «Pano Crú»)

Enfim, podia ser bem pior, né?

24 outubro 2005

O banqueiro e a violação

As vicissitudes da alta finança cada vez me entusiasmam mais. Não percebo um caracol das movimentações financeiras que fazem o Mundo andar para a frente, para trás ou para os lados e dificilmente algum dia conseguirei entender por que raio o valor de uma moeda que é decidido num gabinete pode, por exemplo, condicionar toda a vida mundial.

Também não sou especialista em off-shores e não domino as suspeitas que recaem sobre os bancos portugueses investigados pela PJ. Seja como for, acredito em cada uma delas, vá lá saber-se porquê.

Bom, mas o mais interessante mesmo foi o comentário que ouvi há pouco do capitalista do Espírito Santo: «Naturalmente estou muito preocupado... com a violação do segredo de Justiça.» Mainada! O que é que são uns milhõezitos usurpados ao Estado (portanto a todos nós) ao pé do drama de um segredo violado? Haja respeito!

23 outubro 2005

Problemas mentais

Segundo dados da Comissão Europeia, 27 por cento dos europeus sofrem de problemas mentais e a depressão caminha a passos largos para o estatuto de principal causa de doença no (chamado) mundo desenvolvido.

O que é que nos andam a fazer? O que é que andamos a fazer? O que devemos fazer?

17 outubro 2005

Intestino pela vulva. Sim, leu bem

Retirado de uma entrevista de um médico ginecologista do Hospital de Santo António, Porto, ao Correio da Manhã de hoje:

«— Uma vez assisti uma rapariga que vinha com 20 centímetros do intestino de fora. Foi a uma abortadeira que tentou dilatar-lhe o colo do útero com uma agulha de croché. Só que a agulha furou-lhe o útero e pegou o intestino. A abortadeira pensou que era o cordão umbilical e começou a puxar, o que levou a que o intestino lhe saísse pela vulva.»

Agora, se quiserem, discutam a despenalização do aborto.

16 outubro 2005

Alguns nomes

Pedro Barbosa, Rochemback, Rui Jorge, Hugo Viana.

João Alves, Wender, Silva, Deivid.

Descubra as diferenças.

Fumam de mais e depois olha...

A televisão holandesa vai passar um programa com consumo de droga e sexo ao vivo, seguido de debate sobre os temas. Até aqui OK, já se viu de quase tudo na TV e só falta mesmo aquilo que um amigo gosta de dizer, citando por sua vez outro amigo: «Isto só acaba quando uma televisão passar sexo entre deficientes profundos».

Mas atente-se no nome do programa holandês: segundo o Público de hoje, domingo, a tradução mais fiel é «Ejacula&Engole». Eu até era a favor da despenalização das drogas leves, mas depois disto vou repensar...

Perdidos e não achados II



Mais duas pérolas, desta feita em DVD, terão sido emprestadas a alguém, por consequência conhecido/amigo, e nunca mais voltaram a Telheiras.

Mais uma vez, presumo que entre os seis leitores deste blogue (estamos a subir nas audiências, garantiu-me a Marktest) não estejam os detentores das obras, mas nunca se sabe, palavra puxa palavra, 31 de boca, e tal, pode ser que reapareçam.

São «só» o Antes de Amanhecer (Julie Delpy e Ethan Hawke) e o ET, o filme que me fará sempre chorar, mesmo que tenha de o comprar outra vez.

14 outubro 2005

As contas das gravatas

Os transportes públicos vão aumentar 4 por cento; a gasolina aumentou, desde Janeiro, 35 por cento; o gasóleo 45 POR CENTO, mas isso é bem feita porque polui mais (e lá em casa há dois carros a diesel, não sou suspeito); o colégio do meu filho aumentou 6,5 por cento; o café, lá onde eu mais o bebo, aumentou 20 por cento no mês passado. Os jornais desportivos aumentaram este ano 7,7 por cento. E assim por diante.

Ora bem: daqui por uns meses, aposto, virá um senhor de gravata anunciar uma inflação de 3 e poucos por cento, mais coisa menos coisa. Isso é chamar-me o quê?

13 outubro 2005

Depois dizem que são paneleirices, e tal


Acabo de perceber que perdi mais um livro. Apenas mais um. MAIS UM! É do mais odiável que acontece. Sei, ou presumo, que na maioria das situações as pessoas não fazem por mal e sim, é verdade que no meio das minhas colecções há um ou outro CD que pertencia a outrém.

Não estou a ver que entre os cinco leitores deste blogue esteja a pessoa a quem emprestei a «biografia não autorizada» do José Mourinho, autoria de Joel Neto, mas às vezes nunca se sabe, alguém puxa conversa e vai na volta o livro reaparece.

Enquanto espero por mais este D. Sebastião, penso seriamente em fazer com os livros o que já há anos tenho para os CD: uma base de dados em Access. Paneleirices, não é? Está bem, mas o certo é que já não me importo nada de emprestar discos. Vou lá ao computador, ponho «emprestado a x ou y» na caixa certa e a qualquer momento mando a máquina imprimir a lista dos ausentes. Podem até passar anos com amigos, mas pelo menos sei onde estão e por isso ainda são meus. Este livro, como dezenas de outros, é que já não...

10 outubro 2005

Para espreitar

Olhem, gostava mesmo que fossem aqui. É dos que valem a pena. E não se deixem intimidar pelo desencanto autárquico, isto passa-nos, a mim e a ele.

09 outubro 2005

E calem-se, OK?

Ah!, e de uma vez por todas, vão para a puta que vos pariu com a conversa de que os políticos são isto e aquilo, tá?

É assim...

Confesso, ingénuo, que mantive ligeiras esperanças. Mas não - confirma-se tudo: vale a pena fugir à justiça, vale a pena ser demagogo, vale a pena ser bronco, vale a pena ser populista. Portugal, meu amor, mereces tudo o que não tens!

Contra a mentira


Se nas próximas presidenciais aparecer um candidato morador da Margem Sul a reconhecer que A PUTA DA PONTE 25 DE ABRIL ESTÁ SEMPRE EMPANCADA e que nela perdem centenas de horas de vida milhões de portugueses, eu voto nele em vez de pôr a cruzinha no poeta. Os utentes do IC19 pelo menos não escondem o que passam todos os dias e até têm a vantagem de saber a que horas contam com o pára-arranca.

É domingo; não houve acidentes; não está sol; não é Agosto; já há Almada Forum portanto não precisam de passar os domingos de chuva no Colombo; o Benfica não joga em casa; o Sporting não joga em casa; é dia de eleições. ALGUÉM ME EXPLICA POR QUE DEMOREI 1H45 A PASSAR A PUTA DA PONTE? Obrigado.

08 outubro 2005

A fronteira

De vez em quando, a vida encarrega-se de destruir a notável capacidade que temos de nos achar invulneráveis e imunes àquele tipo de perigos «que só acontecem aos outros»: esta manhã, um pedaço de tecto, com meio tijolo incluído, caiu na cama do meu filho. Ele tinha-se levantado há menos de uma hora. Já sequei as lágrimas.

Mão na merda

Sinto-me com urticária. Inadvertidamente, peguei num panfleto do Partido Nacional Renovador que um criminoso qualquer deixou na minha caixa de correio.

06 outubro 2005

Aterrador

Um italiano que esteve em coma profundo durante quatro meses diz que durante este tempo percebia tudo o que se passava à sua volta.

Não sei se é verdade, «show off», exagero ou oportunismo. Só sei que é uma perspectiva aterradora. Aliás, tirando talvez um despertar como aquele que Hitchcock nos ensinou, dentro de um caixão debaixo de sete palmos de terra, não consigo pensar em nada mais desesperante.

Chama-se Marta, acho

Ainda não vi o programa sobre sexo da TVI, apenas ouvi dizer bem. Já vi fotografias da apresentadora, mas não é por isso que gosto dela antes mesmo de ver o programa. É pelo que li na Visão desta semana, numa entrevista da senhora. Em transcrição de memória é qualquer coisa como isto, respondendo a uma pergunta sobre os problemas mais comuns nos casais modernos, seja isso o que for:

«O maior problema é não haver orelhas suficientemente grandes para ouvir e bocas suficientemente grandes para dizerem o que é preciso dizer-se.»

Às vezes é tão simples explicar coisas complicadas...

05 outubro 2005

Chama-lhe nomes...

O mínimo que dizem dele é que é prolixo. Se isto for lido em separado até pode ofender, mas assim juntinho quer dizer apenas que fala longamente. Jorge Sampaio fala em círculos, usa palavras difíceis, cumpre imensas voltas em torno do principal antes de lá chegar. Mas hoje discursou pela última vez como Presidente e fiquei com a sensação de que já é o último caso conhecido de um Presidente com classe e nível. Falo da segunda metade do século XX/primeira metade do século XXI. Depois disso é claro que pode aparecer alguém interessante.

01 outubro 2005

Para uma discussão séria



Isto está (literalmente) giro quanto a mandatários dos candidatos mais importantes às Presidenciais de Janeiro: então não é que depois de Mário Soares ter recrutado a bela Joana Amaral Dias veio agora Manuel Alegre chamar o que eu presumo belo Pacman, dos Da Weasel?

A minha óptica de heterossexual (não é politicamente incorrecto, não?) diz-me que o moço é bem parecido, algumas opiniões femininas que tenho ouvido também são favoráveis. Sobre a Joana não é preciso dizer muito mais.

Agora a questão é simples: se dependesse dos mandatários para a juventude, quem iria defrontar *** * **** **** na segunda volta?

29 setembro 2005

Eh pá...

Eh pá, escusavam de exagerar com aquela coisa dos pequenos a ganhar aos grandes... Mas foi bom, merecido, justíssimo.

Leite materno

Um ministro, não tenho agora a certeza qual mas provável e logicamente Correia de Campos, afirmou que o Governo tudo fará no sentido de incentivar o aleitamento materno até aos seis meses. Cada vez acho mais piada a esta malta: então faz-se «tudo» menos... alargar a licença de parto?

É o problema de estas coisas serem tratadas por quem nunca amamentou e já não se lembra de como foi quando alguém ao lado teve de o fazer. Eu lembro-me bem: o meu pequeno adorava o leite materno, mas quando a mãe teve de ir trabalhar não esteve para grandes ginásticas. Venham de lá os biberões e não me baralhem! Por um lado acho que a mãe agradeceu. Nunca tive de tirar leite à bomba, mas palpita-me que não é o exercício mais aliciante do Mundo.

28 setembro 2005

A história ao contrário

Entre outras 1525 razões, mais coisa menos coisa, é por isto que adoro futebol (e juro que nada contra o FC Porto, torço sempre a favor na Europa): aqui, às vezes, os pequenos são maiores que os grandes e ganham. Não acontece em mais nenhum desporto e, pior ainda, acontece muito pouco na vida. Eu cá gosto. Excepto, claro, quando o grande é meu amigo, mas isso também é raro, só mesmo no futebol...

P. S. - Um rebuçado a quem adivinhar qual foi o ÚNICO jogo de hoje da Liga dos Campeões a ficar 0-0

27 setembro 2005

O Abril das palavras e o voto da consciência


Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.

In «Chegar Aqui», 1984

Abril e todos os que o amam tiveram uma grande notícia no fim-de-semana passado. Um fim-de-semana quente de Setembro em que todos já discutem presidenciais e poucos se entusiasmam com as autárquicas de Outubro mais os seus plebiscitos de arguidos benquistos pelo povo.

Um fim-de-semana quente em que uma voz tonitruante e umas barbas experientes, porém frescas, disseram «presente». Manuel Alegre, que no início do processo não me convencia, afinal ensinou-nos outra vez que «há sempre alguém que diz não». Alguém corajoso, como ele, para dizer não ao voto órfão de uma esquerda perdida.

Cavaco em Belém é o pior dos pesadelos. Manuel Alegre pode não conseguir um milagre e se houver segunda volta lá terei de tapar a parte esquerda do boletim para votar Soares. Mas pelo menos já limpo a consciência na primeira volta. Obrigado, capitão do Abril das palavras!

24 setembro 2005

O mundo numa bola ou toda a sabedoria concentrada em cinco singelos anos

Já devo ter dito isto, mas repito: este miúdo nunca me enganou. A história é tirada daqui e vale a pena recontar. Para aprender. Obrigado, companheiro.

O sentido da vida

O meu filho tem uma teoria. Acha ele que o futebol nunca vai acabar. É como o mundo, mãe. Quer dizer, o mundo é capaz de acabar, mas o futebol não, porque mesmo que o mundo acabe, os extraterrestres vão ficar para sempre a jogar à bola com um planeta. De onde vimos? Para onde vamos? O que é que isso interessa? O que interessa é o que andamos cá a fazer (a ver a bola, pois claro!) e o que o que fica para além de nós (a bola, como é evidente!).

escrito por Ana às
10:41 AM

23 setembro 2005

Obviamente, não me queria demitir


Caros Paulo e Luís:

Desde que retomei a actividade desportiva regular, deixei de fumar e fui ao médico (por esta ordem) passei a estar doente. Quer dizer, doente não será o termo. Na verdade, excepção feita a alguns fusíveis queimados e ao chocalhar de meia dúzia de parafusos mal apertados na moleirinha, tenho-me sentido regularmente bem. O que acontece é que as análises não andam boas há quase dois anos, curiosamente a tal altura em que fiz a primeira colheita de sangue em décadas.

Nestes dois anos tive um filho e a mãe dele, sempre zelosa da minha saúde e ainda bem, ganhou um argumento imbatível para as discussões em que me torno meio tonto ao defender os prazeres da vida: agora, quando digo que não vou de modo algum deixar de comer do bom por causa do colesterol e que se morrer vou deitado e tal e tal, manda-me explicar isso ao miúdo. Arrasa-me, portanto.

Há poucas semanas, eu e vocês dois criámos a Confraria do Leitão da Bairrada em Lisboa. Os estatutos obrigam à realização de um almoço semanal, salvo motivo de força maior (leia-se outro restaurante), com inclusão de um convidado como quarto elemento para uma ou duas boas conversas.

Ciente dos deveres de sócio fundador e disposto a sacrificar os meus trigliceridos aos altos interesses da Confraria, marcarei presença no almoço de dia 28, há muito agendado. Vejo-me, contudo, obrigado a abdicar da periodicidade semanal do estaladiço.

Ainda assim, não quero terminar esta carta de demissão — que obviamente não queria escrever e vai pontuada a sangue com colesterol e lágrimas com creatinina — sem vos dar conta de que após aturadas negociações com as minhas veias e artérias concordámos numa degustação de leitão por mês.

Sem mais, e depois de vos lembrar que tenho 30 anos e não 86, apresento-vos os melhores cumprimentos, com batata frita fininha às rodelas, molho e salada mista

Alexandre

22 setembro 2005

As minhas desculpas

Cresci, já pela altura em que queria fazer a barba, a decorar uma por uma as falas do Top Gun. Há bocado fui jantar com gente boa e abri a boca de espanto quando nenhum se lembrava da Meg Ryan como mulher do Goose. Incrível! Depois pensei melhor e concluí algo que nem sempre me parece óbvio: as pessoas podem crescer e tornar-se interessantes sem amarem os mesmos filmes e livros e discos que eu.

Lá ao jantar disse que o Top Gun é o filme em que ela está mais bonita. Claro que exagerei (In the Cut, In the Cut...), mas gosto de me lembrar da Meggy a cantar Jerry Lee Lewis, que querem? Ao pé disso o que é uma simulação de orgasmo à mesa do café?

Mas bom, a verdade-verdadinha é que a foto veio aqui parar porque foi imoral ter o Phil Collins a abrir o meu blogue durante mais de 24 horas. As minhas desculpas a quem mesmo assim voltou.

21 setembro 2005

Cá está!


José Mourinho gosta de Phil Collins, Sting e Bryan Adams. Eu sabia, eu sabia que havia qualquer coisa...

Estão a ver?

Mulher de palavra, ela voltou para ser confrontada com a Justiça. Ainda há gente de palavra, é bonito. Voltou e o povo grita por ela. É uma mulher de armas, dizem. Dizem também (não o povo, os doutos) que em princípio não pode ser já presa, porque é candidata à Câmara. Mas não foi a pensar nisso que ela voltou, claro. Foi só a pensar na Justiça e nos seus timings.

A boa notícia é que de hoje em diante qualquer arguido pode esperar em Copacabana pela data do julgamento. É assim, não é?

19 setembro 2005

Aventuras de um leigo na blogopolítica


Tentei www.estarola.net; nada...
Tentei www.cara.de.pau.net; nada...
Tentei www.tens.uma.lata.do.caracas.net; nada...
Tentei www.contanasuica.net; nada...
Tentei www.populismo.net; nada...
Tentei www.a.conta.e.do.sobrinho/e_a_gente_faz_de_conta_que_acredita.net; nada...
Tentei www.portugal_barrasco.net; apareceram outras caras vagamente conhecidas, um major, um presidente de câmara vitalício, uma foragida no Brasil...
Tentei www.inauguracoes.net; nada...

Moral da história: por isto, ainda bem que não vivo no concelho de Oeiras. Outras razões haveria para ter lá casa, mas pelo menos desta safei-me. É que ele... vaiganhar.net. Livra!

15 setembro 2005

Sorry


Foto AP

Compaixão é mais ou menos o mesmo que pena, certo? Portanto, como não gosto de ter pena de quem quer que seja, mesmo que seja rico(a) e famoso(a), não é por compaixão que esta Jennifer Aniston começa a agradar-me.

Há umas semanas coloquei-a numa polémica lista (50 comentários!) de «mulheres menos». Depois disso vi-a muito produzida na Vanity Fair, a falar com o coração sobre a desgraça de ter perdido o Pitt para a Jolie; agora aparece-me esta foto com a grande Oprah. Pronto, desculpa, Jenni, eu tiro-te da lista.

Então 'tá bem...

Parece que eu e este blogue somos isto, mais coisa menos coisa:

Your Blogging Type Is Thoughtful and Considerate

You're a well liked, though underrated, blogger.You have a heart of gold, and are likely to blog for a cause.You're a peaceful blogger - no drama for you!A good listener and friend, you tend to leave thoughtful comments for others.

What's Your Blogging Personality?
http://www.blogthings.com/whatsyourbloggingpersonalityquiz/

Obrigado Alex

O Mundo é justo?


Alicia Keys, Foto AP

E não lhe bastava cantar bem?

O timing certo

O rapaz joga futebol e só por isso já é muito bem-vindo a Portugal. Claro que errou no clube por dois ou três quilómetros, mas pronto, para todos os efeitos já prestou um serviço à Nação ao marcar nos descontos. Aliás, pela parte que me toca prestou dois: é que no sábado passado ainda estava meio perro e isso foi de certeza bom para as minhas cores preferidas. Clubismo à parte: gosto do Miccoli.

14 setembro 2005

E queixam-se, queixam-se...

O Banco Mundial, que eles amam e veneram, desta vez trocou-lhes as voltas. Então não veio dizer que Portugal é um dos onze países onde é mais fácil despedir pessoas? Os patrões, sempre queixosos, passam a vida a negar, mas nós já tínhamos reparado. De qualquer forma, obrigado BM.

13 setembro 2005

Quero ir dormir

No dia em que os sapateiros não quiserem tocar viola, os pintores se dedicarem só à pintura e os merceeiros não tenham a mania que podem gerir supermercados, talvez o País melhore. Por enquanto, decididamente, não. Puta que os pariu.

12 setembro 2005

A foto é da AP, as saudades são minhas

Bela segunda-feira, ou o desmontar de um paradoxo

Parece estúpido, mas é verdade. Roam-se de inveja: é segunda-feira, estou bem disposto, só precisava de vir para o trabalho lá pelas quatro da tarde mas cheguei antes de almoço, estou a gozar o silêncio de uma redacção (parece mentira, não é?), já estive numa aula de música do meu baby, enfim, até parece que o mundo sorri e não há New Orleans nem Portugal nem o Carlitos a jogar no nosso campeonato principal.

Cheguei aos lugares de estacionamento que nos são destinados (são só três, um bem raríssimo de aproveitar sempre que possível), estava ocupado por uma carrinha gigante de quatro piscas ligados, esperei quase meia hora sem chamar o reboque, aceitei as desculpas do senhor com um sorriso e uma palmadinha nas costas...

Acho que isto tem a ver com o facto de normalmente trabalhar aos domingos. Vantagem dupla - não sofro o síndroma da estupidificação domingueira e as segundas deixam de ser tão más como dantes. Mas mesmo assim estou a achar esmola grande de mais. O pobre desconfia do resto do dia, mas vamos ver...

11 setembro 2005

Intervalo para futebol

Não julguei que fosse possível, mas aconteceu: provou-se que Marco Ferreira não é, afinal, o jogador menos inteligente, para falar soft, da Liga portuguesa. O título é de Carlitos, a arma secreta de Koeman para a derrota de Alvalade.

09 setembro 2005

Só para quem pensa



Só depois de sair da sala de cinema percebi, por mais um desses acasos da leitura, que o argumento e a realização eram do argumentista de Million Dollar Baby. E começou a fazer-se luz. Este Paul Haggis é um génio.

Colisão retrata como nenhum outro filme de que me lembre as contradições do racismo e do anti-racismo. Usa a LA de todos os sonhos como cenário e leva-nos numa viagem profunda pelas nossas convicções, contribuindo para questionar algumas delas. É isto que distingue o bom do mau cinema, digo eu que não percebo nada de planos nem close-ups nem raccords. Gosto apenas de boas histórias. Mesmo quando me fazem chorar de raiva. É muito mais confortável chorar por causa de lamechices.

A foto desta iraniana está aqui para amenizar o momento. Quando virem o filme vão perceber, Os que já viram, provavelmente, também. O sorriso e a luz dos olhos dela são a prova de que o Mundo rola melhor com todos juntos. Se é racista, vá bardamerda e não veja Colisão. A redenção pela arte não é para mentes enviesadas...

07 setembro 2005

Currículos

Receber currículos de gente conhecida, ou de conhecidos de conhecidos, é no mínimo angustiante. Ser depositário das esperanças de gente que quer trabalhar sem ter onde é assustador. Perceber, ainda por cima, que entre aqueles papéis há talento faz-me aproximar da terrível sensação de impotência.

Quem me dera a Noruega e o seu pleno emprego, a sua economia sem recessões, a sua fantástica qualidade de vida, os seus dignos subsídios de maternidade... E NÃO ME VENHAM COM A MERDA DA TEORIA DOS SUICÍDIOS. Esse deve ser o lugar comum mais básico que conheci para amenizar as nossas desgraças. O Alentejo é quente, as pessoas estão a milhas de ter tudo o que desejam e precisam e no entanto também se matam com inusitada frequência.

Aquilo lá para o Norte da Europa é, ainda por cima, bonito e fresquinho! OK, eu sei que isto vale mais para mim, mas Oslo fica tão bem com um mantinho de neve... E depois tínhamos sempre as praias portuguesas, baratíssimas para os ordenados noruegueses!

What the fuck?...

Pá, o teste é sobejamente idiota. Mas eu fi-lo e agora queria perceber se isto é bom ou mau! HEEEELP


You are .mpg You live life like it was a movie. Constantly in motion, you bring pleasure to many, but are often hidden away.
Which File Extension are You?

05 setembro 2005

Sem ironia

Desde os 20 anos que sinto precisamente isto que segue abaixo. Sem ponta de ironia, apenas com a sensação de que me faltaram sempre colegas mais velhos e experientes. Agora somos gente muito nova a brincar aos chefes. Cá por mim prefiro sempre ter uns cabelos brancos por perto para o que der e vier. Escreveu então Fernando Dacosta, um dos que foi resistindo:

«Redacções houve onde quem tinha mais de 40 ano se via emprateleirado e pressionado a aposentar-se; ou seja, alienava-se a essência do jornalismo: a memória, o conhecimento, a experiência, a argúcia, a comunicabilidade.»

Fernando Dacosta, in revista Visão, n.º 652

04 setembro 2005

O livrinho verde


Devia ter, sei lá, uns cinco anos. Por sorte já sabia ler. Na estação de barcos do Terreiro do Paço havia um quiosque com jornais e livros. O meu pai comprou-me um, verde, fininho. «Os Cinco e a Ciganita». É o número 9 da colecção original. Tenho-a todinha e não li uma linha dos «upgrades» que foram feitos mais tarde, já à revelia da genial Enid Blyton. Estou um bocadinho triste, hoje, porque numa pesquisa rápida na internet não encontrei nenhuma capa da «minha» edição. Também não posso fotografar uma, porque os 21 tesouros estão em casa dos meus pais. É o sítio certo para os livros que mais os ajudaram a formarem-me e a conduzirem-me ao que sou hoje.

Só comi scones lá para os 21 anos, a Rita levava-me ali à cave do Monumental antes ou depois do cinema, mas sinto-lhes o cheiro desde que devorei aquele livrinho verde. E acho que ainda hoje sonho com lanches como os da tia Clara. Toda a gente gostava da Zé, mas eu engraçava era com a Ana, pequenina e frágil, de cabelos loiros a precisar de afago e protecção. Na minha cabeça eu era sempre o Júlio, claro. Sabia lá que ia sair pequenote...

Bom, e isto a propósito de quê? De ter lido com uma lágrima no canto do olho que vai ser feita uma nova série de televisão, a estrear em Inglaterra em 2007. Descontando o tempo que demorará a chegar a Portugal, tê-la-emos lá para 2009, ano em que o Jaime faz... isso mesmo: cinco anos! «Diz que» a série será, provavelmente, com os netos dos Cinco originais, mas adivinho que terei nela o pretexto ideal para ir a uma aldeia ao pé de Évora buscar um livro verde, fininho, e dá-lo ao meu filho mais velho. Os outros há-de querer ele ir buscá-los a casa da avó. E ela vai estar lá para lhos dar todos. Eu sei que vais, mãe.

03 setembro 2005

Uber é melhor que metro


De repente surge o conceito de ubersexual. É o substituto do metrossexual, que tantos e tão exaltantes debates tem provocado na blogosfera amiga. Em Itália já tinha lido qualquer coisa sobre isso. Fiquei amigo. Agora leio a ideia nos jornais portugueses e fico mais convencido. É muito melhor ser «uber» que «metro». Mesmo que não consiga explicar muito bem o que é cada uma das coisas...

Mas vivam os espanhóis!

Antes que haja equívocos: o post abaixo nada tem contra a entrada de espanhóis no capital da TVI. Ao contrário do ex-administrador que escreveu no «Expresso» e fez o «Expresso» escrever aquilo tudo, estou-me bem nas tintas para o facto de os espanhóis invadirem o tecido produtivo nacional, mais os centros culturais e mais seja o que for. Basicamente, acho que eles são
melhores que nós em quase tudo, portanto só podemos agradecer que apareçam e tentar aprender alguma coisa com eles. Mas atenção: estão longe de ser perfeitos ou bons samaritanos só porque nos conhecem há muitos anos: quando se trata de fechar jornais porque não os lucros de uma fábrica de sapatos, fecham na mesma, não é, Capital e Comércio?

«Quero anunciar perante vós»

É assim que José Sócrates introduz a revelação de medidas supostamente importantes para o País. Medidas como esta, na qual ninguém tinha pensado: «As escolas vão funcionar até às cinco e meia da tarde, em benefício das famílias.» O pior é se o Sindicato dos Trabalhadores de ATL ou a Confederação de Amas se queixa um dia destes...

Mas não era disto que queria falar. Era de negócios e concubinatos. O «Expresso» diz que a compra da Media Capital pela espanhola Prisa tem algo a ver com relações entre o PS e o PSOE. Que os irmãos-vizinhos da Prisa tinham ficado magoados com a venda da Lusomundo ao Quim Oliveirinha e foram por isso compensados, claro que indirectamente, com influências indirectíssimas do Governo. Isto vindo do PS? Não estou nada a ver! A sério: o que me irrita é acreditar à primeira, mesmo sem provas...

Isto sim, é multiculturalismo


O reggae mais engraçado que se ouve por estes dias (não me matem os rastas, não sou especialista!) é cantado por um branco alemão. São estes exemplos que provam, todos os dias, a inutilidade do racismo, do sectarismo e da xenofobia. Ainda bem. Já agora escutem uma ou outra cantiga...

«Se eu fosse fufa»


Pronto, anda tudo aí a falar em três nomes que fariam um homem ser gay por uma noite ou uma mulher fufa por outra noite (eu sei que fufa não é muito bonito, mas há pior). Eu decidi dar o meu contributo de sexta-feira à noite.

Pois eu cá, se fosse mulher e fosse fufa, podia muito bem escolher esta senhora. A preto e branco e tudo. Quando lhe perguntarem o que é classe, responda Kristin Scott-Thomas e verá que não se arrepende. Bom fim-de-semana (eu, ao contrário de quase todos vocês, por cá andarei)

02 setembro 2005

Regresso mais ou menos

Estive de folgas(s). Como sou muito vaidoso claro que vim aqui ao blog ver se a malta tinha comentado qualquer coisa; mas como também sei ser muito preguiçoso, nada escrevi. A preguiça continua, não há ideias. Nestes dois dias fui sobretudo do Liverpool. Tão liverpoolista como quando jogaram contra o Mourinho. Falharam. Não faz mal, fica para a próxima. Falando de coisas sérias: gostei de ver o Marocas no recebe-beijo-na-mão depois do anúncio da candidatura. Parecia um casamento, giríssimo. A merda é que vou ter de votar nele, né?...

31 agosto 2005

Encantos

Este poeta eu sei que nunca me deixaria ficar mal. Mesmo que quisesse um dia ser candidato à presidência da República. Foi aqui que soube da existência de um grupo de admiradores de Jorge Palma que começou a juntar-se para conversar, cantar, estar. E tudo começou no Palma. Acho encantador, penso que se calhar um dia arrisco aparecer por lá e vou adormecer com esta letra a embalar-me:

Andava eu sem ter onde cair vivo
Fui procurar abrigo nas frases estudadas do senhor doutor
Ai de mim não era nada daquilo que eu queria
Ninguém se compreendia e eu vi que a coisa ia de mal a pior

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Andava eu sózinho a tremer de frio
Fui procurar calor e ternura nos braços de uma mulher
Mas esqueci-me de lhe dar também um pouco de atenção
E a minha solidão não me largou da mão nem um minuto sequer

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Se queres ver o Mundo inteiro à tua altura
Tens de olhar para fora, sem esqueceres que dentro é que é o teu lugar
E se às duas por três vires que perdeste o balanço
Não penses em descanso, está ao teu alcance, tens de o reencontrar

Na terra dos sonhos...

30 agosto 2005

Como a pressa nos faz parvos

Pronto, confesso: não ouvi toda a declaração de Manuel Alegre. Só algumas partes, por sinal tocantes. Confiei no que disse o repórter da televisão: «Manuel Alegre é candidato e adversário de Mário Soares». Ouvi o comentador de serviço. Reagi na hora, assim bem ao estilo da sociedade da internet. Está no post abaixo. Acabei de escrever e estava o mesmo repórter a entrevistar Alegre. Que afinal disse discordar da candidatura de Soares, mas frisou que não iria fracturar a esquerda, tendo por isso decidido não se candidatar. Podia apagar o post de baixo e tudo bem, mas não quero. É um «mea culpa». Afinal, fui tão precipitado como o repórter de televisão. Mas pronto, pelo menos percebi o Português e não continuei, depois de ouvir Alegre pela segunda vez, a dizer que «ele ainda não decidiu se se candidata ou não».

As palavras do poeta

Manuel Alegre é candidato à presidência. Resta saber se vai a votos. Para já segue na frente porque falou muito bem. Porque é um poeta e sabe usar as palavras. Porque até em «politiquinha» (a política que existe, a que praticamos, aquela em que só se contam espingardas e não se debatem ideias), é sempre importante «alguém que diz não». Mesmo que depois de amanhã desista em nome da politiquinha dos outros.

Lá vêm eles!...


Adeus Lisboa da calmaria; adeus lugares de estacionamento; adeus vias desimpedidas; adeus restaurantes com mesa à sexta e ao sábado à noite; adeus domingos com menos fatos-de-treino e crucifixos a sair das camisolas de alças; adeus IC 19 quase saudável; adeus, até ao próximo Agosto. Cá estaremos, firmes, enquanto eles, que amanhã voltam como formiguinhas, rumarão de novo aos Algarves. Assim a crise desacelere...

Mau gosto

Há dias assim: andava eu desde manhã cedo à procura de um motivo para escrever aqui uma piada brejeira, fácil e de mau gosto quando o DN me ajudou através de uma simples breve: o novo director da «New Yorker» chama-se Louis Cona.

Estão a ver a cena se um famoso comentador desportivo fosse leitor da revista com os melhores desenhos do Mundo? Estou a falar daquele que uma vez chamou «Vaginadu» a um ganês do Leiria que respondia por Konadu. Pronto, já desabafei, prometo melhorar no próximo post...

29 agosto 2005

Os filhos da economia de mercado e os filhos da puta

A discussão ideológica fica para outra altura. Ou não, enfim, comentem o que quiserem. Queria só anotar que o «Diário do Povo», órgão oficial do Partido Comunista Chinês, e portanto da China, anunciou uma «campanha de purificação» da comunicação social. Livros, jornais e produtos audiovisuais vão ser, basicamente, alvos de censura, com castigos previstos para quem os venda e difunda.

O interessante da questão é que se isto se passasse em Cuba ou na Coreia do Norte teríamos o «mundo livre» num coro uníssono a condenar nova travessura de um estado comunista. Como se trata, pelo contrário, de um país «de enorme potencial», membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, com uma «economia de mercado fluorescente», um parceiro incontornável, o «tigre renascido da economia mundial» e etecetera e tal, está tudo mais ou menos OK. Ou seja: se fosse o Fidel ou o Kim Jong II, tínhamos bandido com cara e nome. Mas como se chama o primeiro ministro chinês, mesmo?...

27 agosto 2005

Hão-de chegar as fotos

Está mesmo a apetecer-me pôr aqui umas fotos de Veneza. E mais uma ou outra que trouxe de Itália. Mas ainda não tive tempo. Talvez logo à noite, talvez. Olha, se fosse o Ricardo já podia deitar mãos à obra: ficou em casa durante o fim-de-semana e protagonizou a pior notícia da semana para os benfiquistas: não joga no derby de Alvalade, dentro de 15 dias...

Isso é que eu gostava

A caminho da meia idade (bom, ainda um bocadito longe, pronto), não via com maus olhos um emprego que passasse por escrever meia página, uma vez por semana, a gozar e glosar o trabalho dos outros.

Não deve ser má vida: folheia-se uns jornais e umas revistas, topam-se as coisas mais fora do normal, escolhem-se uns ódios de estimação, mais umas embirraçõezinhas avulsas para compor o ramalhete e já está.

Depois só falta escrever. Esta parte é difícil, porque quem está tão à vontade para atirar pedras aos outros tem de ter sempre telhados de betão. E nem sempre tem, mas adiante. Adopta-se então um tom, escrevem-se uns caracteres, poucos, e a semana está ganha. Presume-se que com ordenados principescos, porque não é em vão que se atinge o estatuto de observador-Deus-infalível.

O pessoal que se dedica a esta faina tem um problema grave: como nunca ou raramente teve uma ideia na vida, embirra gratuitamente com quem faz algo um nadinha diferente do habitual. Mas percebe-se: afinal, uma mente de génio gastar semanas inteiras a ler os outros ignorantes...

26 agosto 2005

Viva

Claro que isto não interessa a quase ninguém, mas voltei. Já voltei anteontem, mas só agora tive tempo de dar aqui uma voltinha. Está tudo na mesma, sensivelmente, o que é sempre bom sinal.

Estive mesmo em Veneza. Andei de gôndola. Um dos meus companheiros disse que ficaria toda a vida a achar-se «urso» se tivesse estado lá sem experimentar a dita. Acho que ele tem razão. Daqui a nada volto com umas fotos, talvez.

23 agosto 2005

Rapidinha

Aqui é Trieste, ponta direita da parte superior da bota italiana, com terraço a dar para a Áustria e a Eslovénia. Já tirei uma fotografia ao lado de uma estátua do James Joyce em tamanho real. Parece que ele passou aqui uns tempos e gostava de cá estar. Tive sorte: há uns meses estive em Dublin, a terra dele, e também o deixei entrar numa foto para o meu álbum. Dá uma montagem gira para pregar com pioneses num quadro de cortiça. Agora só falta a coragem para o «Ulisses». Mas sei que lá chegarei. Juro a mim próprio.

Estou com pressa, sai esta rapidinha para pedir ajuda a eventuais especialistas do comportamento que passem por aqui: há dois dias, no aeroporto de Milão, ia com dois colegas portugueses apanhar um voo para Veneza (siiiim, amanhã, depois dos futebóis, acho que vou ter tempo de ver; e prometo, João, não tentar levar o carro até à Praça de São Marcos!); adiante, mostrei o cartão de embarque a seguir a uns espanhóis, o senhor da Alitália falava espanhol, disse «gracias» aos da frente, disse «gracias» aos de trás (os outros portugas que me acompanharam) e depois de olhar de relance para a minha foto no passaporte atirou um «thank you». Dúvida: isto é bom ou mau? Tenho ar de tunisino/turco/marroquino? Ou um distinto «je ne sais quoi» da Europa civilizada, onde para ele, italiano, se fala em inglês? Morrerei com a dúvida. «Ciao, belle»...

20 agosto 2005

18 anitos...

Não é que grame por aí além o Ricardo. Mas adoro este miúdo. Ele não precisava de dizer isto. Adoro-o:

«Queria deixar uma mensagem... Toda a gente comete erros e os adeptos não deviam assobiar o Ricardo, que já deu muito ao Sporting e vai continuar a dar»

João Moutinho, na TVI, após o Sporting, 2-Belenenses, 1 (no qual, para quem não sabe, o Ricardo refrangou à grande e à francesa!)

19 agosto 2005

Isto interessa a alguém?

Andava há uns dias na gaveta dos pendentes. Não sei se interessa a alguém, mas um pedido é um pedido, enfim. Cá vai:

Idiossincrasias - as 5 menos:
Gente que estaciona nos passeios e nas passadeiras
Gente que não apanha a merdinha feitinha pelo cãozinho numa rua que devia ser de todos
Cães no meio da rua sem açaime («não faz mal, não morde»... até ao dia em que o meu filhote levar uma dentada de um)
Fumadores que não percebem o óbvio – entre os direitos deles e os de quem não fuma, só uns podem prevalecer
Energúmenos que atiram lixo para o chão

Idiossincrasias - as 5 mais:
Sorrisos que incluam os olhos
Perfumes de mulher
Chinelos/havaianas em pés de mulher
Empregados/donos de cafés e restaurantes que me façam sentir em casa
Gente capaz de um gesto solidário, por ínfimo que seja ou pareça

5 albums: Xiiii, complica-se...
Bora lá (amanhã pode ser totalmente diferente):
Canto da Boca – Sérgio Godinho
Escritor de Canções – Sérgio Godinho
Só – Jorge Palma
Outras Palavras – Caetano Veloso
Under a Blood Red Sky – U2

5 canções:Isso atão... Como me posso lembrar agora? Vou tentar:
Espalhem a Notícia – Sérgio Godinho
Passos em Volta – Jorge Palma
Steal my Kisses – Ben Harper
She – Elvis Costello
Só Eu Sei – Juventude Leonina, versão estádio no ano do SuperMário

5 albums no IPOD (isso é aquilo que faz uma pessoa parecer um zombie no meio da rua mas não é um walkman? Não uso. Vamos para escolha de carro, como outros antes de mim)
Afinidades – Clã e Sérgio Godinho
Out of Season – Beth Gibbons and Rustin Man
Esperanza – Manu Chao
Um qualquer – Chico Buarque
Campolide – Sérgio Godinho

5MP3s na playlist (isto é músicas soltas outra vez, certo? No computador é mais palhaçada para rir ao fim da noite, tipo...)
Vinho Verde – Paulo Alexandre
E Depois do Adeus – Paulo de Carvalho (desta gosto mesmo à séria...)
Cabana – José Cid
Mula da Cooperativa – Max
Ontem ao Luar – Vicente Celestino (saudades...)

Os 5 blogs para onde isto segue:
Oh pá... Cheira-me que a pouca malta que conheço destas andanças já respondeu. Pega, Jo; Alex, um desafio?; São Bento, alinhas? Vá lá, Rosa; e alguém da Pais e Filhos. Iupi, consegui!

Dias felizes

É tarde, vou finalmente ver a lua que recomendam aqui. É sobretudo depois destes dias cheios e intensos (de trabalho, entenda-se com algum lamento à mistura) que tenho saudades de fumar. Ia saber bem, daqui a nada, com a janela do carro bem aberta a gozar os primeiros sopros de vento e esse ainda tímido frio que enfim nos veio aliviar a tortura que tem sido este Verão.

Mas pronto, obviamente não vou fumar e o importante mesmo é que entrámos em contagem decrescente para um dos momentos mais felizes de cada Agosto que passo.

Podem pôr as cervejas a gelar no frigorífico; podem recomeçar a agendar os fins-de-semana com cuidado; podem preparar-se para sofrer; podem vibrar, sentir, roer as unhas, pôr o cachecol, chorar; podem gozar os espectáculos, mesmo que sejam mauzitos; podem sonhar; podem alienar-se; podem utilizar os lugares-comuns todos que quiserem: VAI COMEÇAR O CAMPEONATO! Há horas sublimes...

18 agosto 2005

P. S.

Em relação ao post anterior, antes que chovam comentários: claro que o homem tem direito às férias, claro que o facto de ele estar em São Bento ou no Quénia não ia fazer diferença quanto à área ardida. Era - teria sido - apenas uma questão de bom senso, de solidariedade para com as vítimas dos fogos, de sentido de Estado, ou lá como se diz quando convém. Até porque no Quénia o tempo costuma estar bom para safaris noutras alturas do ano. Mas pronto, cada um sabe de si e assim de repente nem vejo razão nenhuma para o primeiro ministro ser diferente...

Eu ouvi!

Juro que ouvi, acabo de ouvir e estou capaz de garantir que passa em directo na televisão. José Sócrates disse «este é o momento de combater os incêndios». «Este» momento? Qual, «este» agorinha, hoje, 19 de Agosto? Mas será que este homem esteve de férias no Quénia enquanto o País ardia?

Que tem a Sport TV a ver com as presidenciais?


Há coisas que só acontecem a quem tem Sport TV. Uma é constatar o quão mau é o serviço monopolístico da TV Cabo. Outra é, por exemplo, ver um documentário sobre combates de boxe míticos. Só hoje aconteceram-me as duas coisas. Interessa mais, agora, falar da batatada.

No centro do documentário só podia estar um homem: Cassius Clay, ou Muhammad Ali, conforme a sensibilidade (isto não está para brincadeiras quanto a alta religião...). Combate para aqui, combate para ali e lá chegámos ao terceiro que teve com Joe Frazier, que ao que parece ficou mesmo Joe para o resto da vida.

O combate do século, a coragem, a bravura, os limites da condição humana, a transcendência do boxe - não discuto os conceitos, mas que foram aplicados por toda a gente que andava naquela história, lá isso foram. Interessa-me mais perceber por que raio me fui eu lembrar, logo ali a meio do combate, de Mário Soares e Cavaco Silva...

Um dos boxeurs desistiu à entrada do último assalto, quando já nenhum deles parecia aguentar-se de pé. O outro, claro, ganhou. Qual terá sido?

À mão


17 agosto 2005

OK, fui injusto


Pronto, a revista chegou, estava cá pela fresquinha e veio mesmo de estafeta. Não foi bem «ontem à tarde», mas mesmo assim bem melhor que o normal. Agora a ver se esta semana aparece na caixa do correio no dia certo...

Agora discutam...

Já percebi que isto quando a malta se aproxima ou passa os 30, mais coisa menos coisa, começa a falar de beleza, glamour e sex-appeal sem os preconceitos da adolescência ou da pequenez de espírito. Ou seja: alinha nas conversas do sexo oposto, não se importando de dar uns palpites sobre gente da mesma equipa. As coisas até correm bem, embora continue a parecer-me impossível que as mulheres não percebam que o Rodrigo Santoro tem ar de maricas. Também lhes custa entender que a Catarina Furtado é MESMO gira (e agora ex-namorada de nós, Portugal...) ou que a Emanuelle Seigneur transpira sexo. Mas isso são os pormenores que (felizmente) nos ajudam a perceber que ainda há diferenças entre homem e mulher.

Não sei se é do calor, mas nos últimos dias tem havido muita conversa dessa no meu planeta, por isso decidi deixar aqui umas cábulas, com o pré-aviso de que em relação a mulheres a classificação geral muda mais ou menos semanalmente:

Mulheres mais:
Michelle Pfeiffer em contagem especial, fora das classificações. não muda
Kristin Scott-Thomas
Catarina Furtado
Scarlett Johansson
Juliette Binoche
Nicole Kidman
Maria Sharapova
Penélope Cruz (Tom Cruise, 2-Nós, 0)
Maria Fernanda Cândido, ou lá como se chama
A minha tia Paula (quem conhece sabe do que falo)

Homens mais:
Sean Penn
Jeremy Irons
Brad Pitt
Fabio Canavaro
Sean Connery
Nélson Feiteirona (quem conhece sabe do que falo)

Mulheres que parecendo mais... são-me menos:
Angelina Jolie
Merche Romero
Jennifer Aniston
Claudia Schiffer
Maitê Proença

Homens da tanga:
Rodrigo Santoro
Alexandre Frota (eh eh eh)
Alessandro Nesta
Alejandro Sanz
Julio Iglésias

Quando a esmola é grande...

Bem me parecia tudo perfeito de mais: o estafeta não apareceu com a revista... (ver dois posts abaixo)

16 agosto 2005

Nunca tinha desconfiado

A Victoria Beckham confessou numa entrevista nunca ter lido um livro na vida. O grande desafio era os jornalistas serem capazes de perguntar isto a mais uma série de personagens. Vou deixar a minha short-list, aceitam-se mais sugestões:

- Cristiano Ronaldo
- Tony Carreira
- George W. Bush
- Cândido Barbosa
- Maya
- As Fanáticas do Record e as Belas e Perigosas do 24 Horas
- Marcelo Rebelo de Sousa (este só para saber se leu algum inteirinho, sem ser naquela diagonal que lhe permite aconselhar 20 livros por semana)
- José Peseiro (ou será que se fica mesmo pelos resumos da mulher?)
- Bárbara Guimarães
- O presidente dos EUA

Isto, em Portugal? Nãããão...

Não queria acreditar: «Sim senhor, senhor Alexandre, vou já fazer o pedido e ainda esta tarde passará por aí um estafeta para lhe levar a revista.»

O quê???? Não me perguntaram quantas pessoas vão à minha caixa de correio, não puseram a hipótese de ter sido roubado, não culparam os correios, nem sequer insinuaram que lhes estivesse a mentir para ficar com outra revista, que já se sabe que a malta gosta de ter duas para ler, uma na sala outra na casa de banho. Nada. Até fiz mais uma pergunta só para ouvir de novo: «Muito obrigado pelo seu contacto, senhor Alexandre, hoje mesmo um estafeta leva-lhe a revista a casa.»

Pasmei. Será que Portugal está a mudar, ainda que devagarinho, ou a secção de assinantes da Visão é uma excepção assim ao estilo da Microsoft (ver post anterior)? Seja como for, gostei.

15 agosto 2005

É difícil perceber?

De cada vez que tenho tempo de ler um número do DNa, lamento todos os outros que apesar de comprados ficam esquecidos ali num sofá até irem para a reciclagem.

Esta semana, o melhor suplemento (se calhar o melhor produto) da imprensa portuguesa traz-me quatro exemplos de coisas que correm bem no País. Gosto quando o jornalismo dá bons exemplos. Há quem não perceba à primeira, mas é uma forma de denúncia tão ou mais forte que escavar nas desgraças.

Li e deixei imediatamente o Cândido-Vítima-Coitado-Barbosa a correr pelo sonho dele ali na TV para dizer o seguinte:

- Sei que é difícil motivar gente como a do hospital de Coimbra, onde não há listas de espera, mas fossem todos os médicos assim e meio caminho estava andado

- Passo à frente da casa de repouso de Carnaxide. Embora louvando a forma de trabalhar, constato que a Sónia Morais Santos nem teve coragem para publicar os preços. Deve ser coisa pouca...

- Chego por fim ao mais importante, para não acontecer tudo como na minha vida profissional: será preciso ter o dinheiro da Microsoft para perceber que empregado bem tratado é empregado mais eficiente?; será preciso ser-se comunista, barbudo, utópico ou mesmo Deus para entender que «se a escola trata as crianças como idiotas elas comportam-se como idiotas»? Para ver o meu filho na Escola da Ponte estava capaz de ir morar para as Aves, já dizia a minha mulher, que modéstia à parte escreveu há uns anos um texto tão bonito e bom como esta escola de sonho...

14 agosto 2005

Só duas notinhas

Para não transformar isto num blogue sobre futebol (cruz credo, já me chega o que chega!), juro que tão depressa não volto ao tema. Mas não resisto a duas notinhas mais:

1) O caso do Nuno Valente no FC Porto é triste. Nestas guerras com as selecções os clubes têm razão quando falam de quem paga os ordenados; mas esquecem-se com grande facilidade dos milhões que já fizeram, e hão-de-fazer, depois de os jogadores terem jogado nas selecções, as verdadeiras grandes montras do futebol mundial (vide selecção brasileira, até se pelam por ter uma internacionalizaçãozinha no currículo...)

2) Gosto da ideia de «BI colectivo». Carvalhal, treinador, diz que o Belenenses já tem um. Boa sorte.

Não há volta a dar


Terceiro minuto de três de desconto, 0-0, o mija-na-escada acaba de falhar um golo na cara de Cech; na joga seguinte, a dois segundos do apito final, Crespo marca um golaço para figurar no «best of» de Natal da Liga inglesa. E assim começa Mourinho o campeonato. Será que quando vier para a Selecção a boa onde se mantém? Ao menos isso... (Imagem chadelimao.weblog.pt)

Orgulho luso-irlandês


Já sei que vão levantar-se mil vozes a dizer que Jorge Sampaio exagerou na condecoração, entrou numa de país saloio e tal. Dou isso tudo de barato, descontando mesmo as diatribes dos intelectuais de pacotilha, aqueles que falam do lado comercial dos U2 e de como eles eram bons quando ainda ninguém os conhecia (a não ser eles, claro).

Para mim foi emocionante ver o meu presidente (poderei chamar isto ao próximo?) condecorar a minha banda de referência, ainda que hoje por hoje talvez não seja a preferida. Já nem paciência teria, desconfio, para ir os ver na confusão de um estádio. Mas gostei de os ver em Belém. E pensar que um dia nos chamaram «geração rasca», quando aquele álbum ali da foto era a melhor coisa que se podia ouvir no Mundo!...

13 agosto 2005

24 Horas 17 facadas à frente


Espero ver isto esclarecido durante a semana: o 24 Horas diz-me que o taxista (mais um!) que foi assassinado ontem sofreu 27 facadas, o Correio da Manhã fala apenas em 10. Em início de época já é grande avanço pontual para o diário da Av. Liberdade...

Mais a sério: é tempo de proteger esta gente com um bom sistema de emergência, não? E com a obrigatoriedade de um vidro protector entre os bancos da frente e os de trás, por exemplo.

Explique lá devagarinho, dra.

Fátima Felgueiras, que começou por confundir-se com a autarquia no nome e pelos vistos foi por ali fora até saberão os tribunais onde, declarou ao Expresso que não pedirá imunidade eleitoral quando regressar a Portugal para ser julgada. Entende a senhora que isso seria «uma imoralidade». Muito bem, então concluimos que:

1) É completamente ético ser candidata à presidência da câmara quando impendem sobre ela acusações gravíssimas precisamente relacionadas com a gestão da dita (embora ela não tenha dado a certeza de que será candidata)

2) Fugir para o Brasil para não ser presa preventivamente não é nenhuma imoralidade

E desconfiamos que:

1) Os felgueirenses podem ser suficientemente corporativistas para a elegerem de novo

2) Fátima achará normal, caso seja condenada, gerir a câmara ali a partir de Tires, ou assim

3) Fátima, se condenada, será incapaz de fugir para o Brasil. Seria uma imoralidade. (Porque agora já assume que «a fuga talvez não tenha sido a melhor opção». Mas voltar já... tá quieto!)

Deixa lá, filha...

Foto AFP

Quando estava a menos de uma unha negra do número 1 do WTA, Maria Sharapova lesionou-se. E ontem estava mais grave que hoje, porque falavam de... lesão no peito. Ora bolas, isso também não! Hoje a maleita já vai no ombro, para bem dos nossos pecados.

Deixa lá, Maria, cá prá gente já lá vão uns meses que estás em primeiro...

12 agosto 2005

La Palice; ou La Palisse, escolham

O que me custa mesmo no Verão, além do calor em excesso que nunca mais passa, é jamais me espantar com os estudos que provam ser Portugal o país europeu com maior área ardida. Se pelo menos pudéssemos dizer «a sério? como é possível? que surpreendente, com todos os cuidados que eles tiveram depois da catástrofe do ano passado...»

Eu sei que os argumentos estão estafados e o assunto não é novo nem tem muitas voltas a dar. Mas pronto, apeteceu-me deixar também um protesto. Ai se valesse de alguma coisa...

«Eh pá, no meu tempo...»

Se acreditarmos em tudo o que todas as «velhas guardas» foram dizendo ao longo dos anos, dos séculos, concluímos através de dedução lógica que ninguém interpretava melhor o mundo nem as suas necessidades do que... sei lá, o Homem de Neanderthal. O «no meu tempo é que era bom» constitui, provavelmente, o maior factor da paralisação portuguesa. E irrita-me, sobretudo, quando aparece escrito nos jornais naquele jeito lamechas de quem não sabe mais o que dizer.

A quem teclava máquinas de escrever e hoje desdenha os computadores nunca ocorreu, decerto, que antes de si havia quem escrevesse à mão. Seremos piores, hoje, por não sujarmos as mãos de tinta nas tipografias? Ah, malditas máquinas de calcular que tiraram a tabuada às criancinhas! (Por acaso sei-a todinha e acho importante, sem ter por isso que fazer todas as minhas contas à mão) Oh, odiosa internet que já nem obriga a saber de cor os nomes dos rios ! (Das linhas férreas não vale a pena, porque já quase não existem, mesmo).

O chato, para a malta «da velha guarda», é que exceptuando talvez a comida e tudo o que tem a ver com ordenamento do território, as coisas são de uma forma geral muito melhores hoje do que no tempo das pharmacias que não vendiam preservativos nem pílulas. Se o meu filho pode começar a jogar com uma bola de couro por que há-de ter de passar pelas de trapos?

Eu cá gosto de brincar com essas coisas do «quando era novo». Mas só mesmo brincar. Na verdade, quando for grande, só espero lembrar-me que um dia fui novo e antes de mim estavam cá outros que diziam «no meu tempo é que era bom». Irra!

Obrigatório ler

Quem gostar de ler Português faça o favor de arranjar dez minutos, ir aqui, entrar no arquivo de Maio, descer um pouco e deter-se num texto com o título «Rosebud». És tão bom, caraças! Obrigado a ti também.

Olha o irlandês, olha...

Diz uma personagem (desculpem lá, aprendi que se escreve e diz sempre no feminino) de um dos contos de Os Homens Bronzeados Ficam Bonitos, de Frank Ronan (original de 1989, 2.ª edição Gradiva, 1998, tradução de Maria do Carmo Figueira):

«- Acho que os Portugueses estiveram tanto tempo embrutecidos que desde a revolução descobriram que não lhes resta senão a bondade e a sinceridade.»

Vivo, o irlandês (recomendo toda a obra)! Só ainda não percebi se isto é um elogio...

Voltarás, capitão

Sem génios, a humanidade não avançava. Sem trabalho também não, claro. Cada um com seu mister. O Pedro Barbosa, além de genial, trabalhou sempre muito mais do que grande parte das pessoas julgava. Só não tinha aquela coisa de ser certinho como um relógio. Ainda bem. Mesmo irritando, às vezes, por querer fazer tão bem e depois falhar, mostrou-me das coisas mais bonitas que se podem fazer em relvados de futebol.

Há dias vi-o na rua, com os filhos. Apesar de nos termos cruzado profissionalmente, não nos conhecemos. Ou melhor, ele não me conhece a mim, claro! Apeteceu-me detê-lo e dizer «obrigado, capitão, sei que voltarás». Digo agora.

11 agosto 2005

Em defesa do futebol

Fui levar a criança à creche e até ia dormir mais um pouquito, mas não consigo sem antes escrever isto:

A UEFA devia criar uma nova competição apenas para as equipas italianas, o Chelsea, o Liverpool e o Boavista. Ganhava quem fizesse mais de cinco ataques por jogo, com um mínimo de três remates e dois cantos. Menos de 30 faltas por jogo seria motivo de anulação.

Assim, quem gosta de um futebol baseado na ideia de dois meios-campos, duas balizas, emoção, incerteza, espectáculo e etc. voltava a ter competições europeias à sua medida.

Pronto: com estas breves linhas e um ou dois kompensans fico como novo depois de ontem à noite...

10 agosto 2005

Bom dia, como está, passou bem?

À parte questões de educação, cortesia e boa convivência, não há realmente nenhuma razão especial para um vizinho me dizer bom dia nas escadas.

Na verdade, se no meu país há crianças nas fábricas e bancos de escola vazios; se os motoristas fumam dentro dos táxis; se os automobilistas não respeitam filas de trânsito e se metem à má-fila à frente de quem já lá está; se nos meus passeios há cocó de cão e rodas de jipes que só por serem de jipes têm de estar estacionadas de forma viril; se nas minhas ruas há carros parados em cima das passadeiras ou a obstruir passagens de carrinhos de bebés e cadeiras de rodas; se na minha cidade o Santana Lopes foi presidente de câmara; se no meu ecoponto há lixo orgânico; se nos meus contentores de lixo orgânico há vidro, plástico, papel, cartão e pilhas; se no meu governo o Santana Lopes foi primeiro ministro; se nas minhas auto-estradas se anda a 250 km/h; se das janelas dos automóveis saltam para o chão papéis e cascas de fruta; se no aeroporto da minha capital os portugueses fumam, mesmo sendo proibido, ao contrário do que fazem quando vão «lá fora»; se na minha televisão um conde hermafrodita e um actor porno se transformam em figuras nacionais; se num café da minha cidade a empregada recusa-se a lavar o biberão da filha da Simara; se na minha área profissional o jornal que mais sobe as vendas conta sobretudo estas histórias inúteis; se no partido que apesar de tudo mais respeito há um pretendente a dinossauro que duvida da existência de uma ditadura na Coreia do Norte; se noutro partido o Santana Lopes chegou a presidente; se nas minhas pontes há carros alterados a fazer corridas; se no clube de que gosto um presidente rico só fala de árbitros, perseguições e sistemas; se noutro clube de que gosto menos o director-geral diz «gánhemos» e pede que os sócios «estejem descansados» porque haverá ponta-de-lança novo; se numa empresa onde já trabalhei uma mulher não é aumentada dois anos porque teve um filho; se enquanto espero um barco não me dão lugar mesmo tendo um bebé ao colo; se três desses lugares são ocupados por um homem de camisola de alças que está a cortar as unhas dos pés à mulher de cabelo pintado de louro; se o Santana Lopes ainda ameaça voltar...

Se tudo isto e tanto mais, por que hei-de estranhar se um vizinho não me fala nas escadas do meu prédio?

09 agosto 2005

Bons tempos, os da camada de ozono

Diz, com algum a-propósito, o comentador da Eurosport, enquanto um verdadeiro dilúvio se abate sobre Helsínquia e obriga a paragem dos Mundiais de atletismo: «Não nos lembramos de isto alguma vez ter acontecido na história da prova.»

Pois. Ele, como a maioria de nós, ainda é do tempo em que havia camada de ozono, temperaturas médias um grau abaixo das actuais, Verão, Outono, Inverno, Primavera... Coisas boas que a Natureza nos deu e nós lhe tirámos. Assim como as florestas portuguesas, estão a ver?

Eu sei que isto soa um bocado inocente, mas juro que gostava de ter a certeza de que o meu filho e os filhos dele terão ar decente para respirar. E não tenho. É pena.

O génio e a morte

Já que tenho de morrer, não me importava que alguém me descrevesse assim essa hora:

«(...) E a vela à luz da qual Ana lera o livro da Vida, com todos os seus tormentos, todas as suas traições e todas as suas dores, resplandeceu, de súbito, com uma claridade maior do que nunca, alumiando as páginas que até então haviam estado na sombra. Depois crepitou, estremeceu e apagou-se para sempre.»

Leão Tolstoi, in Ana Karenina, Publicações Europa -América, 2003, tradução de João Netto

Reabrimos!

Passei mais de uma hora a colocar aqui posts atrasados, de outras paragens, mas não vale a pena perder muito tempo com eles. O que interessa é que este projecto de blogue está reaberto. Consegui, sozinho, mudar o aspecto da página e vai-se a ver um dia destes até aprendo a introduzir fotografias. A ver no que dá... Beijos e abraços aos poucos que por cá aparecerem.

28 março 2005

Terri, ainda

Não consigo parar de pensar em Terri Schiavo e no que o seu caso representa. Estou longe de ter grandes certezas, ao contrário do que o post de ontem pode fazer crer. Por isso volto ao tema: pensando bem, bem, bem temos de ter em atenção que o que lhe foi retirado foi... água e alimentos, ainda que estes apenas em forma líquida. Ou seja, não foi um ventilador ou qualquer outro meio que, artificialmente, a prendesse à vida. Ela vai morrer de fome e sede. Acredito que, como dizem os médicos, não sofrerá. Espero mesmo que não e continuo a pensar que a decisão dos juízes foi a melhor para toda a gente. Mas fiquei a matutar, de repente, que há grandes diferenças entre o caso de Terri e o de Ramón Sampedro, ou aquele da doce e dura personagem de Hillary Swank no Million Dollar Baby. A propósito: voto nele para filme da década, mesmo faltando cinco anos para esta terminar.

27 março 2005

Para que pôs ele a mão na bola?

A ver se me faço entender: diz a lei 12 do futebol que deve ser expulso um jogador «que impedir com a mão um golo ou uma oportunidade manifesta de golo». Dizem alguns entendidos que Seitaridis, no Sporting-FC Porto, não «impediu uma oportunidade manifesta de golo» porque Liedson ainda não tinha cabeceado e Jorge Costa estava no caminho. Ora, se Liedson já tivesse cabeceado fora do alcance de Jorge Costa e a bola fosse entrar na baliza, Seitaridis teria impedido «um golo» e não «uma oportunidade manifesta de golo». Não será precisamente para distinguir uma coisa de outra que ambas estão referidas na lei? Pergunta de algibeira para o final: se não foi para «impedir uma oportunidade manifesta de golo», então para que pôs Seitaridis a mão na bola? Apeteceu-lhe?

Terri, Ramón e D. José Policarpo

D. José Policarpo é um homem da Igreja com quem se pode conversar. Ou melhor, de quem se podem ouvir as ideias, visto que em boa verdade nunca tive o privilégio de falar com ele. Mesmo sendo moderno na sua visão do Mundo, não era justo esperar da parte dele outra coisa senão a condenação da eutanásia e do aborto. Mas dizer que «se está a acabar com a vida quando ela é exigente e difícil» parece-me um pouco redutor. Senhor cardeal, «exigente e difícil» é a vida de 95 por cento de nós. Não me parece propriamente a caracterização da «vida» de Terri Schiavo ou da existência de Ramón Sampedro, embora ao galego ainda lhe valessem a lucidez e a consciência. Olho para a fotografia da norte-americana no dia do seu casamento, no Público de hoje; lembro-me das imagens que têm aparecido na televisão daquilo que ela é actualmente e não hesito em concordar com os juízes. De boa vontade eu próprio lhe retiraria o tubo que a mantinha artificialmente ligada a qualquer coisa que não consigo chamar de vida. Mas respeito quem pense o contrário, a não ser, claro, George W. Bush, que há muito deixou de merecer o respeito dos outros.

16 março 2005

Bem-vindos sejais

Santana Lopes compõe os ralos cabelos, passa um pouco de lixa fina na cara de pau, ensaia ao espelho o sorriso de guerreiro cansado e volta à Câmara Municipal de Lisboa. Lembra que Jorge Sampaio também lá regressou depois de ter sido candidato a primeiro-ministro derrotado em legislativas. Pois, só não foi exactamente, um pouco antes, primeiro-ministro indigitado não se sabe bem por quem. Mas isso é um pormenor. Lopes garante que tinha alternativas mais vantajosas do ponto de vista financeiro. Pois claro. Aliás o mesmo se passa, dizem-me fontes insuspeitas, com os ex-assessores que vão desaguando nos antigos órgãos de comunicação social. Eles até podiam ficar melhor de massas, mas não há como o espírito de missão que os agarra à magia do jornalismo, não é? Sejam bem-vindos e já agora felicidades aos que partem para quatro anos de maioria mais estável, porque absoluta. Dignifiquem a classe. E não se preocupem: nós deste lado cá vos esperamos de braços abertos, cientes de que nunca serão capazes de misturar política com jornalismo.

E pagam-lhes para comentar, não é?

Dias Ferreira, Guilherme Aguiar e Fernando Seara (a ordem tem apenas a ver com o tema e as intervenções em questão) são pagos para comentar, com ar de comensais de café e cheios de private jokes, a pretensa «actualidade desportiva da semana» num programa televisivo de segunda-feira à noite do qual nem recordo o nome mas que me aconteceu nele esbarrar ontem mesmo. Adiante: Pedro Mourinho, o moderador, perguntou a Dias Ferreira o que tinha, afinal, ganho o Sporting em trocar Fernando Santos por José Peseiro. O ilustre sportinguista riu-se e disse que «está à vista», secundado por Guilherme Aguiar. Acrescentou Dias Ferreira que «é verdade que tinha mais pontos, mas onde é que já ia na corrida pelo título?» Pois bem: ia a sete pontos do então líder, FC Porto, apenas mais um do que os que o separam actualmente do Benfica. Com duas diferenças porventura determinantes: este ano há mais equipas entre o Sporting e o líder; e no ano passado ainda ia receber ambos os rivais históricos, enquanto este ano recebe o FC Porto e desloca-se ao terreno do actual primeiro classificado. Fernando Santos não é bem parecido (Peseiro também não, de facto) nem pertence à alegada nova vaga de treinadores portugueses cheios de modernidade e fatos Armani. Mas escusava de pagar pelo que fez e pelo que não fez. É certo que no fim das contas ficou em terceiro lugar; mas Peseiro arrisca-se a muito pior (embora possa igualmente ganhar). E nesta altura do campeonato tinha tantas ou mais hipóteses de êxito que a actual equipa. Com outras duas diferenças relevantes: mais 16 pontos conquistados e o melhor FC Porto de sempre pela frente. Querem pagar-me para falar de algo que não domine muito bem, embora possa ter vagas ideias? Aceito propostas.