31 agosto 2005

Encantos

Este poeta eu sei que nunca me deixaria ficar mal. Mesmo que quisesse um dia ser candidato à presidência da República. Foi aqui que soube da existência de um grupo de admiradores de Jorge Palma que começou a juntar-se para conversar, cantar, estar. E tudo começou no Palma. Acho encantador, penso que se calhar um dia arrisco aparecer por lá e vou adormecer com esta letra a embalar-me:

Andava eu sem ter onde cair vivo
Fui procurar abrigo nas frases estudadas do senhor doutor
Ai de mim não era nada daquilo que eu queria
Ninguém se compreendia e eu vi que a coisa ia de mal a pior

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Andava eu sózinho a tremer de frio
Fui procurar calor e ternura nos braços de uma mulher
Mas esqueci-me de lhe dar também um pouco de atenção
E a minha solidão não me largou da mão nem um minuto sequer

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Se queres ver o Mundo inteiro à tua altura
Tens de olhar para fora, sem esqueceres que dentro é que é o teu lugar
E se às duas por três vires que perdeste o balanço
Não penses em descanso, está ao teu alcance, tens de o reencontrar

Na terra dos sonhos...

10 comentários:

Davi Reis disse...

Ora aí está. É o poeta, sim. "Na Terra dos Sonhos" é, a par com o "Bairro do Amor", a expressão suprema e idealista da utopia existencialista do Jorge, passo as expressões. São duas canções antológicas que albergam no seu âmago o ideal social do "último artista". Reconhecem-lhe unanimemente os dotes de exímio e virtuoso pianista mas poucos se lembram de descodificar o lirismo quotidiano e simultaneamente poético do português que o Palma canta. Dá muito trabalho ler, compreender... sentir. Uma vez perguntei ao Jorge que mensagens predominantes subjazem na sua obra. Ele respondeu: "Sê quem tu és. E procura sê-lo o melhor possível, descobrir a força para te afirmares não de uma forma prepotente mas com jeito e com espírito humanista, se quiseres. Os valores da liberdade, da justiça, da verdade..." É para mim uma honra conhecer o Jorge há mais de 10 anos e ter privado com ele por várias ocasiões ao longo desse tempo. Já lhe conheci três casas, e sempre me abriu a porta com a maior das simplicidades e simpatia. É uma personalidade das maiores que este País já conheceu, disso não tenho dúvida. É reconhecido em vida mas só postumamente lhe farão justiça, creio. Xano, aqui fica a nota: esta quinta-feira, no Du Arte Garden, Casino do Estoril, 23h30. Acaso não tenha um imprevisto, lá estarei. Encontramo-nos depois da labuta?

"Que a dependência é uma besta
que dá cabo do desejo
e a liberdade é uma maluca
que sabe quanto vale um beijo"

J.P.

Rosa disse...

Olha, eu apoio a candidatura dele à presidência! Sempre me escapava de ter que votar no Jerónimo de Sousa! :)
(Está amanhã no Casino do Estoril, não te esqueças!)

Jo disse...

esta música é liiiiiiiiiiiiiiiiiiiinda :)

innocent bystander disse...

e o cara de anjo mau?

PO disse...

É uma música linda para um momento triste - a não candidatura do Alegre. Mas política é isso mesmo: promessas e desilusões, nao é?! Mudando de assunto levemente: Alguém consegue não rir à gargalhada quando olha para o novo cartaz de campanha do Carmona Rodrigues?!!! «Dar a cara por Lisboa», diz o gajo retratado sem o make-up do photoshop, isto é, cheio de buracos... ehehehe O que eu digo é que não há cu para este gajo!!!!!

Jo disse...

vi hoje o cartaz do carmona e pensei o mm que a são bento.
é uma foto assustadora!!!

Rita disse...

Welcome, to the land of Nightmare!!!! Ah, ah,ah!! I am Carmona! Já arregacei as mangas, agora esbogalho os olhos!!!!!

Rita disse...

Welcome, to the land of Nightmare!!!! Ah, ah,ah!! I am Carmona! Já arregacei as mangas, agora esbogalho os olhos!!!!!

Alexandre Pereira disse...

Por esses e outros carmonas é que voto em Évora. Em Nossa Senhora de Machede, mais bem dito!

Malta, essa da quinta-feira (hoje) era boa ideia, até estou de folga. Mas não consigo dizer à Rita que vou tendo ela que ficar. Ou vice-versa... Mas viva o Palma!

São Bento: o Jerónimo não vai a votos. Se quando o Cunhal era o que era engoliu o elefante Soares para derrotar o Freitas, agora que o senhor já lá está...

Davi Reis disse...

A mim parece-me que o Soares é que engoliu o Cunhal, como terá - embora noutros termos, com alguma deselegância muda e indiferente que se verificou pelo discurso de ontem - engolido o seu camarada Alegre. Melhor: Cunhal engoliu sim, mas um sapo do tamanho de um elefante, provavelmente o maior sapo que teve de engolir ao longo da sua longa carreira política. Recorde-se o apelo de Cunhal na 2ª volta das Presidenciais de 1986, em que o PCP, perante um cenário de combate entre Mário Soares e Freitas do Amaral, apesar de todas as divergências que mantinha com Soares, não se coibiu de apelar ao voto no candidato que, numa análise fria e desapaixonada, menos mal representava os interesses da esquerda (e longe vão os tempos em que Freitas do Amaral era um homem da direita purista).

Reminiscência de 1986:

As primeiras sondagens presidenciais de 1986 atribuíam apenas cerca de 8% das intenções de voto a Soares. Acabou, no entanto, por vencer as mais disputadas eleições presidenciais portuguesas. Na primeira volta (26.1.1986) obtém 25,4%, face aos 46,3% de Freitas do Amaral, mas foi o suficiente para ultrapassar os 20,9% do terceiro classificado (o seu antigo braço-direito, em 86 candidato eanista, Salgado Zenha), e passar à segunda volta. Nesta, vence - por uma margem de 2% - Freitas do Amaral. No discurso da vitória, nessa mesma noite, afirma-se Presidente de "todos os portugueses", numa estratégia de pacificação dos ânimos, perfeitamente bipolarizados pela campanha, e realçou também ser o primeiro Presidente civil, em sessenta anos.