20 dezembro 2009

Notas de um dono de casa IV

Foi inteligente ter perguntado, antes de tentar branquear uns panos de cozinha, se a líxívia se utilizava pura ou duluída em água.

Notas de um dono de casa III

Esta não é de todo mito urbano: gravatas não se lavam na máquina, idiota!

Notas de um dono de casa II

Apesar da emoção do vinho desaparecido, aprendi que aquilo de não misturar peças de cor com brancas tem um fundo de verdade, é mais que mito urbano. Pode ter sido ilusão de óptica, é uma questão de deixar secar. Caso contrário... o Ikea fica perto e estou de férias. E a capa para a cadeira é barata. O pior é a camisa branca, duas tshirts minhas, outra do miúdo...

Notas de um dono de casa I

As nódoas de vinho são um mito. Pelo menos se antes forem regadas com aqueles sprays para nódoas difíceis. Cobertura da cadeira ikea sem rasto do tinto que lá caiu.

19 novembro 2009

Uma certeza

Por muito que tentemos, nunca saberemos ao certo quando as coisas começam a acabar.

12 novembro 2009

Redenção I (e porque não sei escrever tão bem como ele. E como ela. Como eles todos)

Foste como quem me armasse uma emboscada
Ao sentir-me desatento
Dando aquilo em que me dei

Foste como quem me urdisse uma cilada
Vi-me com tão pouca coisa
Depois do que tanto amei

Resgatei o teu sorriso
Quatro vezes foi preciso
Por não precisares de mim

E depois, quando dormias
Fiz de conta que fugias
E que eu não ficava assim
Nesta dor em que me vejo
De nos ver quase no fim

Foste como quem lançasse as armadilhas
Que se lançam aos amantes
Quando amar foi coisa em vão

Foste como quem vestisse as mascarilhas
Dos embustes que se tramam
Ao cair da escuridão

Resgatei o teu carinho
Quatro vezes fiz o ninho
Num beiral do teu jardim

E depois, já em cuidado
Vi no espelho do passado
A tua imagem de mim
E esta dor em que me vejo
De nos ver quase no fim

Foste como quem cumprisse uma vingança
Que guardavas às escuras
Esperando a tua vez

Foste como quem me desse uma bonança
Fraquejando à tempestade
De tão frágil que se fez

Resgatei o teu ciúme
Quatro vezes deitei lume
Ao teu corpo de marfim

E depois, como uma espada
Pousei na terra queimada
O meu ramo de alecrim
E esta dor em que me vejo de nos ver perto do fim.

Sérgio Godinho, in "Emboscadas"

30 outubro 2009

Verso a verso, tirado do disco, para perceber bem todas as palavras

Menina
Em teu peito sinto o Tejo
E vontades marinheiras de aproar

Menina
Em teus lábios sinto fontes
De água doce que corre sem parar

Menina
Em teus olhos vejo espelhos
Em teus cabelos nuvens de encantar

E em teu corpo inteiro sinto o feno
Rijo e tenro que nem sei explicar

Se houver alguém que não goste
Não gaste, deixe ficar

Que eu só por mim quero-te tanto
que não vai haver menina para sobrar

Aprendi nos esteiros com Soeiros
E aprendi na fanga com Redol

Tenho no rio grande o mundo inteiro
E sinto o mundo inteiro no teu colo

Aprendi a amar a madrugada
Que desponta em mim quando sorris

És um rio cheio cheio de água lavada
E dás rumo à fragata que escolhi

Se houver alguém que não goste
Não gaste, deixe ficar

Que eu só por mim quero-te tanto
Que não vai haver menina para sobrar

Pedro Barroso, "Menina dos Olhos de Água"

24 outubro 2009

É Natal

É Natal. Umas luzes toscas envoltas em papel celofane colorido na estação do metro provam-no. Chegou mais tarde, este ano, porque só agora começou a ser Outono. Mas chegou bem a tempo de pesar de novo, como mil pedras ancestrais, sobre os ombros dele. Natal não é quando um homem quiser. Natal é quando as crianças nos obrigam a pensar na hipótese de querer algo que já se não quer fazer. Natal é quando o cheiro do fumo das lareiras reconforta e a azáfama entretém. Natal é, também, quando os nossos mortos nos visitam com maior frequência. Natal é quando se chora com maior facilidade, a olhar o fogo, lembrando o que já ficou "debaixo das cinzas", como ela escreveu ainda nem há 12 horas. Ela escreve tão bem...

Natal foi quando ele entrou no carro e foi atrás do fumo, do cheiro, da azáfama e da criança quando ali já não era o lugar dele. Atrás do carro e daquela estrada terá deixado, a apagar-se de repente, quase se fundindo, uma luz que nunca saberá até que ponto poderia um dia alumiá-lo.

Natal tinha sido também, antes, quando a mãe já não conseguia passar dez minutos sentada à mesa e o bacalhau dela estava lá, no prato, para lembrar outros Natais, quem sabe se numa tentativa de que levasse na grande viagem a imagem do que foram sempre os Natais dela. Nesse Natal ele tinha ido – não varia – atrás da criança, do cheiro do fumo, da azáfama, do vinho. E por isso a mãe não o levou no quadro do Natal, nessa viagem que não tardaria a começar. Porque já não podia sentar-se à mesa e comer o bacalhau. Porque já não conseguia falar e não queria começar outro ano. Não começou.

A mãe visita-o todos os Natais. E noutros dias também, muitos. Se calhar – porque Natal não é quando um homem quiser mas um homem pode querer, um dia, dizer-lhe não — se calhar, pensa ele, desta vez tem de avisar a mãe para aparecer noutra lareira. Também terá cheiro a fumo e chamas vivas. Terá frio e vinho. Mas não terá azáfama, é quase certo. E pode não ter criança. E se não tiver criança não tem sonhos. E os sonhos, pensa ele, às vezes podem muito bem ficar sossegadinhos nas suas caixas fechadas que ninguém dará pela falta deles. Pelo menos neste Natal.

25 abril 2009

Obrigado a todos os que a inspiraram nestas palavras

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E juntos habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen, 1974

26 fevereiro 2009

Uma caixa de Kompensan para a Time Out

Juro que andava há semanas e semanas para fazer o teste: será Rui Monteiro (nada de pessoal, não conheço) capaz de dizer bem de um filme? Um, unzinho, apenas uma unidade?

Admito que sim, que algures por entre este ano e tal de revista tenha acontecido (não vale clássicos consensuais ou coisas típicas de intelectualóides, OK?). Mas a intuição de vez em quando é certa, e eis senão quando fiz as contas pelos dedos: RM apreciou 5 filmes na edição desta quarta-feira. Cinco. Disse mal de quatro e meio. O meio é «A Dúvida» - mas também não disse bem.

Pergunta inteligente:
- Escuta, Xano, sabes de cor o nome de mais algum crítico de cinema da Time Out?

Resposta possível:
- Na verdade não. Mas quando o leio é óbvio que não acredito. O que me leva a procurar noutros lados informação relevante sobre possíveis idas ao cinema. E ao mesmo tempo me impele a enviar uma caixa de Kompensan para a Avenida da Liberdade.

Um «mas»:
- Mas não concordas que vale a pena adoptar o estilo Rui Santos e ser 'odiado' (cuidado com o sentido, não conheço a pessoa parte II) em vez de se ser mais um perfeito desconhecido?

Fim da história:
- Talvez. No caso do RM, depende da possibilidade de algumas vez ter sido feliz a ver um filme. Eu já fui e gosto disso.

22 fevereiro 2009

Uma ou duas vezes por ano lembram-se


A verdadeira doença nacional - vulgo benfiquite aguda com manifestações em muito mais planos do que seria desejável - voltou em força este domingo.

O Liedson anda a marcar golos consecutivamente desde 2003. Até ontem já tinha aviado oito vezes o Benfica, por exemplo. É o segundo melhor marcador da Liga e já esteve lesionado esta época.

Pelo meio naturalizou-se português e levantou-se, meio a medo, a questão de poder representar a Selecção Nacional. Meio a medo não - muito a medo.

De repente o Levezinho espeta mais duas bolachas no Benfica e eis que a Opinião Pública se inunda de comentários, insinuações, propostas e dicas no sentido de Portugal poder ter um ponta-de-lança na equipa.

Pode ver-se a coisa pelo lado da grandeza do Benfica - tão grande tão grande tão grande que só se repara a sério num jogador adversário quando ele lhe faz golos. Eu cá vejo mais pelo lado da saloiice nacional, mas é só uma opinião...

18 fevereiro 2009

É só uma ideia

Falar sozinho (baixinho, vá...) é uma característica de gente inteligente. Tendo isso em conta, não era interessante que num espaço partilhado as pessoas, por exemplo, mudassem de cor quando o estão a fazer? Ou pelo menos um sinalito na testa, azul, ou assim. É só uma ideia...

Quem sabe esta?

Um árbitro italiano levou um balázio na cara e ficou semi-inconsciente. Os jogadores tiveram bom senso e pararam o jogo. Mas a verdade é que o árbitro não mandou parar o jogo e é a única autoridade em campo. E se eles têm continuado? Destas é que eu gostava de ver o Conselho de Disciplina e os seus primos resolverem! Agora cá cotoveladas e simulações...

17 fevereiro 2009

Receituário para desencantados da vida

Isto é para vocês, que se queixam das rotinas e de ter uma vidinha e é sempre tudo igual e tudo o mais e etc.

Jovem, se padeces de casamento aborrecido e estás farto de entrar no trabalho a horas normais e sair a horas mais ou menos normais (nunca são tanto como as de entrada, já se sabe...); se estás aborrecido por só poder ir ao supermercado aos fins-de-semana quando anda por lá muita gente; se te atormenta não ter tempo para ir ao banco a não ser que te levantes às seis e meia da manhã; se te angustiam as filas para comprar bilhetes de cinema ao sábado ou ao domingo; se não te importas de não poder ver o teu clube na bancada ou mesmo na TV; se já não aguentas pensar no que vais fazer para o jantar

Experimenta:

Trabalhar num diário que fecha muito tarde; poder dormir de manhã (se não tiveres filhos, claro, ou a(o) tua/teu mulher/marido tratar dele); não ver o teu filho crescer; não ir ao cinema de todo, porque ao dia de semana descobre-se sempre mais tarefas para cumprir e burocracias para satisfazer; ir ao supermercado pelo menos uma vez por semana e ter caminho livre para desbaratar dinheiro; não pôr os pés num estádio durante meses; não ver os amigos e faltar às festas de anos deles; não passar fins de semana românticos

Bastam dois anitos. Depois voltas à vida anterior e a gente conversa, sim?

04 fevereiro 2009

O português da REN

Dei com isto na Visão da semana passada, mas é provável que pulule por outros lados.

Anúncio da REN (Redes Energéticas Nacionais, a cheirar a dinheiro de contribuinte e cliente, portanto) a dizer (e bem) que tem muito cuidadinho com as cegonhas e os seus ninhos: Localização PREvilegiada.

Há necessidade? Quem tem culpa, além do degradante e degradável sistema de ensino? A agência que produziu o anúncio, os senhores da REN que o aprovaram e mesmo, neste caso, os senhores da Visão que o deixaram publicar assim.

Gente com lugares PREvilegiados na vida devia saber escrever privilégio...

03 fevereiro 2009

01 fevereiro 2009

Uma bela discussão

Um recém-futuro colega de trabalho chamou a atenção para este artigo. Ora aqui está muito paninho para as mangas de uma boa discussão, se possível regada com tinto de qualidade e uns petiscos. Espreitem, vá lá (link no título para os mais distraídos)

31 janeiro 2009

Conto de fadas



Em 2005 o rapaz, visivelmente coxo, entrou três ou quatro vezes em campo para ajudar o Benfica a ser campeão e cerca de 1/8 dos alegados seis milhões a saber o que isso é.

Hoje o rapaz, ainda coxo, entrou em campo para ganhar um jogo destinado ao empate. Parece um conto de fadas, mas na verdade só o será se o Benfica for campeão este ano e ele fizer, vá lá, mais dois golitos.

Mas porra! Se isso acontecer, se os contos de fadas podem ser verdadeiros, quero a minha casa de chocolate, o meu palácio para viver, o meu cavalo branco (mentira, tenho medo...), o meu reino, os meus escudeiros, os meus amigos mosqueteiros, os meus bandidos para combater e derrotar, tudo. Uma Bela Adormecida não preciso, obrigado - já tenho. Porque também temos de fazer alguma coisa pelos nossos verdadeiros contos de fadas, não é?...