28 novembro 2005

Critérios

Televisão portuguesa em canal aberto. Sporting-V. Guimarães. Quase 25 mil espectadores. Comentário: «Os adeptos sportinguistas a não responderem à chamada.»

O mesmo canal, horas mais tarde. Resumo do Benfica-Belenenses. Cerca de 27 mil espectadores. Comentário: «Os adeptos do Benfica a marcarem forte presença.»

Explicação: a barreira está nos 25 ou nos 26 mil. Não comecem já a ver fantasmas...

27 novembro 2005

Crucifixos

30 anos e alguns meses depois da Assembleia Constituinte, o Governo ordenou a retirada de crucifixos das escolas públicas deste Estado alegadamente laico.

Na rádio, a notícia era complementada com um «a Conferência Episcopal diz que nada sabe sobre o assunto». Perguntinha inocente: e tinha de saber o quê?

Nunca me fartarei

O sonho era pintar isto tudo de vermelho.

O objectivo é pintar muito mais.

O bom disto é que a maioria das viagens derivam da profissão. E é bom quando uma profissão nos dá uma das coisas de que mais gostamos na vida.



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24 novembro 2005

Hoje sou do DN!

Manchetes de hoje:

PÚBLICO
Cavaco aumenta vantagem
para vitória à primeira
(Cavaco 57%, Alegre 17%, Soares 16%)

DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Cavaco Silva mais longe
da vitória à primeira volta
(Cavaco 44%, Alegre 14,6%, Soares 10,6%)

Por um dia, viva o DN!

Cada vez menos Alegre

Tenho andado aos ziguezagues com a candidatura de Manuel Alegre. Comecei por não dar importância, depois pareceu-me a Salvação Nacional, agora começa a irritar-me. Deve ser por isto que há pré-pré-campanha, pré-campanha e finalmente campanha, não é? Se todos tivéssemos muitas certezas votava-se logo e pronto.

Explico, em resumo: para começar, Alegre não o é muito. E tem-se comportado, cada vez mais, como um ressabiado em relação a Soares. Fez birra e não votou o orçamento (coisa pouco importante). É meio antipático, chega a mostrar-se bruto lá do alto da sua alegada superioridade intelectual e moral. Agora sugeriu que os comentadores (COMENTADORES, estão a ver o que é?) se abstivessem de escrever nos jornais por, diz, bipolarizarem as presidenciais.

É, caro Manuel, a liberdade de expressão tem estes problemas: nem sempre os outros dizem e fazem o que queremos. Há muitos anos, um poeta lembrava que «há sempre alguém que diz não»... Não se esqueça é que a liberdade de dizer não é tão importante como a de dizer «sim». Não perca votos desnecessariamente!

23 novembro 2005

A ver se eu percebo...

1) Se o sacerdócio na Igreja Católica implica o celibato, que influência tem o facto de o padre ser homo ou heterossexual?

2) A nova cartilha Ratzingeriana (foi só o outro morrer, este reaça andava doido...) diz que os sacerdotes que já exerçam não serão expulsos. Mas espera aí: se o sacerdócio na Igreja Católica implica o celibato, COMO SABEM se um padre é ou não homossexual?

3) Um padre português explicou que esta não aceitação de homossexuais tem a ver com respeito para com as mulheres da Igreja (deve referir-se às que vão à missa e às que limpam os bancos e o chão); se um dia (o que não é provável, com esta abertura ao Mundo) houver mulheres no sacerdócio, podem ser lésbicas ou isso atenta contra os homens?

4) Quando chegar ao século XXI será que a Igreja ainda cá nos encontra?

19 novembro 2005

Juro que não é embirração

Ao contrário da maioria dos portugueses que apesar de tudo o compram, não embirro especialmente com o Expresso, embora hoje até pareça. Mas acompanhem o meu raciocínio por sete segundos:

Título: Ota já tem nome

Texto: «A maioria dos portugueses considera que o novo aeroporto da Ota deverá chamar-se (...) »

Com muito jeitinho, percebe-se que o Governo encomendou uma sondagem «aos portugueses» (a mim não perguntaram nada, outra vez) e presume-se, apenas se presume, que a vai levar em linha de conta para denominar o aeroporto. Ora, eu não compro o jornal para presumir, mas para me dizerem.

Já agora: Ota já tem nome? Pois, assim de repente... é Ota. Será, Monsieur de La Palice?

Estão a ver? É por isto...

José António Saraiva, descendente intelectual directo e em primeiro grau de Monsieur de La Palice, derrapa sempre que tenta fugir aos lugares comuns.

Na edição de hoje, fala do beijo (e não beijos despudorados e carícias contínuas, como se tem querido fazer crer em prestigiadas colunas dos últimos dias) das duas miúdas da escola de Gaia. E fala comparando o episódio da escola com as seguintes situações: dois jornalistas do Expresso na sua redacção; dois militares numa parada; dois empregados de um hipermercado em plena área comercial.

Ou estou a ficar gagá, ou estas situações teriam comparação com a das miúdas SE ELAS SE TIVESSEM BEIJADO NUMA SALA DE AULA, entende, senhor de La Palice? O seu antecessor diria precisamente isto. Ou o senhor repreendia dois jornalistas do Expresso se trocassem um beijo no bar? (É troca de beijos e mãos dadas que a escola proíbe por decreto, não é marmelada despudorada, que isso também os alunos se dispensam de fazer à frente de toda a gente). Ou será que dois empregados do Continente não se podem beijar no parque de estacionamento?

É por isto que se torna absolutamente lamentável que Saraiva vá deixar a direcção do Expresso E CONTINUE COM O POLÍTICA À PORTUGUESA! Em Portugal é assim, nunca se resolve tudo de uma vez, fica sempre uma pontinha qualquer por desatar... A não ser lá na escola: dá a mão à namorada, vai ao director (mas não o do Expresso, embora até fizesse sentido).

18 novembro 2005

E portanto é isto que se ensina nas escolas...

A propósito dos sete milhões-sete de horas a que os professores faltaram durante o ano passado, dizia um daqueles sindicalistas que a gente de tanto ver até já esqueceu o nome: «A senhora ministra esqueceu-se de referir o número de horas que os professores cumpriram. Os professores não são diferentes dos outros funcionários públicos, o nível de absentismo é o mesmo, não é superior.»

Ou seja: se bem entendi o «stôr», se eu não cuspo para o chão mais vezes que o meu vizinho, não estou a fazer mal; se reciclo menos que o Gervásio e tão pouco como a malta do meu bairro, não tem problema, estou na média; se estaciono em cima das passadeiras não faço nada mais grave que grande parte dos outros automobilistas, portanto estou correcto.

É este tipo de sentido de responsabilidde e civismo que se aprende nas escolas portuguesas? A minha esperança é que este sindicalista seja como a maioria dos que a gente vai vendo: pouco mais que um corporativista, apesar de o ponto de partida político ficar nos antípodas do corporativismo. Pode ser que a maioria dos colegas, apesar de faltarem mais do que deviam, não pensem assim. E sobretudo não desensinem nem desformem assim.

Bom fim-de-semana, que para mim será de trabalho. Sem direito a faltas por decreto ou «artigo».

Bela capa, ainda assim



Jennifer Aniston teve o privilégio de ser eleita pela GQ «mulher do ano», na primeira iniciativa do género da revista. O divórcio, no fundo, está a render.

Mas isto vem só a propósito de uma lista que vale a pena espreitar e comentar, em desafio para todas as idades e sexos. (e na qual a Jenni não está... nem podia)

Ainda deve doer



Foto AP

Sarajevo tem uma luminosidade estranha. Há dois anos e qualquer coisa percorri esta avenida, a dos «snipers», sempre à espera de ouvir um tiro. Vi os prédios destruídos. Testemunhei as marcas de uma guerra que passara na televisão oito anos antes. E afinal ela tinha sido aqui tão perto. Olhei o verde das montanhas, debruado por aquele sol meio tímido, e tive medo que tivesse sobrado algum sérvio dos que cercaram a cidade.

Dez anos depois dos acordos de Dayton, lembro-me outra vez que a guerra e o ódio estiveram (e estão) aqui mesmo ao lado. Não é só no Afeganistão, onde ainda hoje morreu um soldado português, ou na África da qual fingimos gostar durante séculos. Foi mesmo aqui ao lado. É mesmo aqui ao lado. Acho que a luz do céu bósnio é fosca porque entre o sol e a terra pairam as dores de milhares e milhares de mortos e de milhares e milhares de sobreviventes.

15 novembro 2005

Até amanhã, camarada

Não, não éramos amigos. Amanhã vão aparecer muitos. E muitos deles nunca te chegaram a telefonar. Eu também não. Soube, como todos aqui, que estavas muito doente. Fui acompanhando «em diferido». Devia ter telefonado? Não sei. Também nunca poderei chegar a perguntar-te. Imagino apenas que quanto menos «estranhos» te perguntassem sobre o que não querias falar melhor para a tua vida.

Lembro-me de como estavas sempre armado em mal disposto, sobretudo quando a malta chegava de Lisboa, e de como esse ar rezingão escondia uma alegria grande de viver e meia dúzia de gargalhadas sempre prontas a sair para animar um dia quente de trabalho. Quente como o Algarve que também é teu e hoje te vai homenagear em silêncio. Como eu.

Gostei que me tenhas ajudado, ainda que esporadicamente, a amar a reportagem e os jornais, Carlos Vidigal. Um abraço, camarada.

É a tropaaaa!!!

Um dirigente associativo (não se diz sindical!) da Marinha, parece, foi PRESO três dias por ter falado mal das hierarquias da Armada. Começo por achar incrível que alguém ainda possa mandar prender alguém fora da esfera dos tribunais civis.

Abro a boca de espanto quando oiço um porta-voz da Marinha (ou Armada, ou como preferirem, mas por favor não me prendam) quando oiço, dizia, a constatação de que «a pena seria em princípio mais pesada, mas o clima emocional em que ele falou foi tomado como atenuante». O senhor deve estar muito agradecido por afinal poder mais ou menos falar. Enfim, tem atenuantes por falar quando está emocionado, pelo menos. Já não é mau.

Dou murros na minha própria cabeça quando oiço, depois, que as associações da Marinha/Armada (instituição se calhar fica bem) classificaram a atitude das chefias como «autoritária». Ora porra: mas há alguma coisa na tropa que não seja autoritária? E os «praças» não sabiam isso quando se alistaram?

08 novembro 2005

Dão cabo de tudo...


Foto AP
Na Somália têm-se multiplicado ataques de piratas a navios que têm o azar de passar ao largo. Mas reparem bem na foto: onde estão os lenços, os barcos de imponentes velas, as espadas, as pernas de pau, as vendas a tapar olhos perdidos noutras batalhas? Primeiro é o elefante que já não toca o sino, agora estes piratas de vão de escada. Dão cabo de tudo, o que vai ser do imaginário dos nossos filhos???

Porque ainda há diferenças

O novo livro de José Saramago é publicado em papel ecológico. Um pedido do Greenpeace que o nosso Nobel não só aceitou, como tornou viável, ao convencer os editores a utilizarem o material.

Estão a ver um escritor de direita a fazer isto? Ou mesmo alguém a pedir-lhe que o faça? Pois...

07 novembro 2005

Momento cor-de-rosa para desanuviar




Olha que engraçada e roliça é a Leonor, hein? Sim senhora... E a mãe continua linda. Viva España!!! (mesmo com reis e rainhas e princesas)












Foto AP

Medo

O que se tem passado à volta de Paris, depois já em Paris, agora também já na Alemanha e na Bélgica, assusta-me. Muito.

Era bom que entre a desculpabilização crónica das esquerdas e o militarismo das direitas, loucas por fazerem Exércitos entrar em cena, alguém começasse a perceber o que é preciso fazer. Mas temo que isso não aconteça.

Só em Portugal?

Com estas coisas não se brinca, por isso juro que não estou a troçar. Durante a tarde comentei que se a queda daquele viaduto em Granada fosse cá, diríamos rapidamente que «isto só em Portugal!». Bom, a verdade, acabo de ouvir escassas horas depois, é que a empresa da empreitada é portuguesa...

02 novembro 2005

Foda-se, eu desisto!

Perdão pela asneirona a abrir, mas depois do pitbull vi outra notícia, no mesmo jornal, que me faz desistir de continuar a ler a imprensa de hoje: nasceu um bebé no Big Brother holandês. Em directo. A mãe, poucos dias depois, abandonou a casa para salvaguardar a criança. Puta que a pariu!

Cães assassinos


Mais uma família foi atacada por um pitbull. No Parque das Nações, um animal com coleira e trela (embora sozinho, se calhar desistiu de passear o dono) mandou para o hospital mãe e duas filhas. A mais nova, de sete anos, levou 16 pontos na cara e no pescoço.

Foi apenas mais um caso. Vai continuar a haver casos destes. Só não percebo como é que ainda se deixa andar cães na rua sem açaime. Por mais mansos que sejam ou pareçam. «Os direitos dos animais»? Sim senhora, têm direito a viver livres... mas sem interferir com a minha liberdade. E desculpem lá, mas as ruas, os jardins, as praças e as esplanadas foram feitas pelo Homem, não pelo Cão. Isto é simples, mas há muito por aí quem não entenda. Como pode quem quer que seja pôr as mãos no fogo pelo que vai fazer um animal no momento seguinte?

Aos donos de pitbulls, rotweillers e outros cães assassinos, a minha palavra de completa intolerância. Fechava-os a todos, mais aos cães, em jaulas e eles que se entretivessem a provar que «são tão mansinhos, não fazem mal, muito menos a uma criança...». Tá bem abelha - o meu filho é que não se aproxima de um, se depender de mim!

01 novembro 2005

A máscara caiu ao Rio

Rui Rio, presidente reeleito da Câmara Municipal do Porto, estabeleceu «regras» de relacionamento com a comunicação social, admitindo apenas entrevistas por escrito e sobre os temas que entender serem importantes. Isto, trocado por miúdos, chama-se censura.

Titular de um cargo público, o que desde logo faz com que não seja só ele a decidir aquilo de que quer ou deve falar, Rui Rio pode, mesmo assim, não responder a todas as perguntas que lhe fazem. O povo que o elegeu julgará, depois, a atitude. O que não pode, de todo, é impedir os jornalistas de perguntar, determinando ele os temas das interpelações.

Diz o autarca que o JN deturpou palavras dele para fazer uma manchete. Essas coisas resolvem-se em sede própria e não podem servir para justificar, seja sob que pretexto for, um corte na liberdade de imprensa.

Rui Rio sempre pareceu uma pessoa séria e há quatro anos foi um fantástico e surpreendente vencedor da segunda autarquia mais importante do País. Nessa altura precisou dos jornais e dos jornalistas. Agora, suportado num segundo mandato e numa maioria absoluta, acha que já não precisa.

Bem vistas as coisas, se calhar a simpatia que Rio despertou aqui pelo sul do País só teve mesmo a ver com o facto de ter afrontado Pinto da Costa, o que faz dele uma espécie de herói solitário no Porto (o outro é Alexandre Magalhães, que vota sozinho contra as contas do FC Porto há duas décadas). Meter-se com o futebol é pouco, contudo. Rio vai perceber isso e um dia correrá a pedir uma entrevista para tentar fazer passar a sua mensagem. As máscaras caem com tanta facilidade...

P. S. - Quando o senhor aparecer a pedir batatinhas, vai ser engraçado perceber qual o primeiro órgão de comunicação a fingir que ele agora não fez nada.