O que se tem passado à volta de Paris, depois já em Paris, agora também já na Alemanha e na Bélgica, assusta-me. Muito.
Era bom que entre a desculpabilização crónica das esquerdas e o militarismo das direitas, loucas por fazerem Exércitos entrar em cena, alguém começasse a perceber o que é preciso fazer. Mas temo que isso não aconteça.
07 novembro 2005
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15 comentários:
assusta e muito...
e assusta ainda mais pensar que "ainda a procissão vai no adro".
Tal como a jo, também acho que, infelizmente, ainda vamos assistir a cenas piores do que as vistas até agora... O pior mesmo, xano, são as soluções. Por ter vivido alguns anos (25) na Damaia, lado a lado com bairros como a Cova da Moura, o 6 de Maio, o Estrela de África e as Fontaínhas, dou por mim a pensar várias vezes na solução para o problema (rastilho) social que ali se vive. E, sinceramente, nunca encontrei uma solução real.
Penso que ali para os lados da Alta de Lisboa estão a tentar qualquer coisa do género Bairro Classe Média/Alta misturado com Bairro Social, não na periferia mas integrado, realmente, no meio. Porém, segundo já soube, ao fim de ano e meio de experiência, a classe média/alta está cansada da «baixa» e quer vê-la dali para fora, motivada por tiros que, de vez em quando, são audíveis, por assaltos e afins... A tal classe baixa, por continuar junta no mesmo bloco de prédios (espécie de mini-guetto desintegrado, na verdade, dos falsos condomínios fechados que o rodeiam), não se integra, não frequenta os mesmos cafés, vive à parte.
Esta tentativa de integração pela convivência sempre me pareceu o melhor caminho... Porém, não sei se por racismo (de parte a parte) se por qualquer outro motivo, parece não estar a resultar.
Resta, talvez, esperar pela próxima geração, que frequentará as mesmas escolas (será?...), para saber se a coisa resultou. Na Damaia, não resultou, porque a partir do primeiro ano do ensino secundário (o sétimo ano de escolaridade), aquela rapaziada dos bairros carenciados que acima referi desaparecia do mapa, desviada por motivos financeiros para a construção civil ou algo pior e ilegal. Teriam, então, 12/13/14 anos, e no currículo o 6.º ano de escolaridade (antigo 2.º).
Acho que já estendi demasiada prosa, corro o risco de ninguém ler isto.
E continuo sem solução...
Bom, vou até ao momento cor-de-rosa ver se desanuvio um bocadito...
eu li. bj
Brigado, amiguita. É uma querida. Beijoka :)
Também li.
Outro querido...
tão queridos!
eu tb li! e tb n encontro solução...mas acredito q ela há-de aparecer!
Jo: tenho fé nisso, tb! A esperança vive...
A solução poderá passar por uma integração diferente da população imigrante. Por uma realidade social diferente, tanto para a população local como para a imigrante. Esta tem de sentir que faz parte do tecido social, tem de ter acesso ao emprego e a condições dignas de trabalho, de residência, de vida. É claro que isto é complicado, e quase nunca acontece a 100% (nem a 90, nem a 80, nem a 70...) Por mais que se faça, os imigrantes nunca se vão sentir em casa, nunca se vão sentir completamente bem vindos, vai sempre haver alguém que os olha de lado e que, mesmo sem dizer nada, os manda para a sua terra... nem que seja só com o gelo de um olhar.
Estou a passar por essa experiência, como sabem. E não é fácil, de facto. As condições em que vivemos aqui não são as melhores. Não vivemos em barracas, mas a degradação de algumas habitações e de certas zonas é um facto. Mas aqui há uma coisa bastante positiva: a população emigrante não está isolada, não está encaixotada, não há guettos. Os bairros estão misturados uns com os outros. É claro que há zonas maioritariamente indianas, outras maioritariamente negras, outras maioritariamente portuguesas, e por aí fora, mas encontra-se sempre uma mistura racial e religiosa em todo o lado. E existe de facto uma política de apoio à imigração. Existe trabalho, existem apoios económicos às famílias carenciadas, apoio no desemprego. E acho que isto faz toda a diferença. As pessoas podem ter uma vida mais ou menos decente, trabalhar, ganhar o seu e sustentar a família. E sentem-se mais ou menos integradas. Digo mais ou menos porque acho que é muito difícil para um imigrante sentir-se completamente integrado, mas penso que aqui existe um tipo de integração completamente diferente do que existe em França, por exemplo, em que há uma história de racismo muito mais acentuada.
Não estou a dizer que aqui não haja racismo, há racismo em todo o lado. Há aqui muito boa gente que também acha que o país devia fechar as portas à imigração, e que também associa a escalada de violência à entrada de imigrantes no país. Simplesmente os governantes sabem muito bem que este país é o que é graças à imigração. E mesmo assim há uma falta de quadros aflitiva na educação e na saúde, só para dar dois exemplos. Há falta de médicos, de enfermeiros, de professores, eles precisam de profissionais, não podem simplesmente cortar a entrada às pessoas quando existem carências tão grandes.
Curiosamente, os maiores focos de racismo encontram-se habitualmente naquelas populações com pouco contacto com a população imigrante. São as pessoas que menos contacto real têm com a imigração as que mais a temem. Os ingleses que vivem no meio das comunidades imigrantes são muito mais tolerantes e abertos, pois contactam com as pessoas, conhecem-nas, e não tecem imagens fantasiosas, alimentadas pelo desconhecimento e pelo medo. O que acaba por acontecer um pouco em todo o lado. Por isso é que a segregação é perigosa. Porque afasta as pessoas umas das outras, isola-as, não as permite conhecer a realidade da diferença nem desfazer preconceitos ifundados. Antes os alimenta.
Bom, parece que quem se estendeu em demasia fui eu... desculpem lá a seca...
Só queria dizer mais uma coisa, desculpem lá...
As revoltas são sempre sangrentas, irracionais, explosivas, assassinas, e todos os nomes horríveis que possamos imaginar. Mas há razões para as revoltas. Ad pessoas revoltam-se porque se sentem injustiçadas, oprimidas, segregadas, vítimas de todo o tipo de discriminações. Isto não é desculpabilização, é tentativa de entendimento. De nada nos serve procurar soluções para estes problemas se não nos pusermos na pele destas pessoas, se não procurarmos entender os seus motivos. É claro que depois a violência alimenta-se e às tantas já se estão todos cagando para o motivo e estão mas é a extravasar toda a raiva e todo o ódio e sei lá mais o quê, mas a raiva transbordou por alguma razão. Temos de ir lá, senão não percebemos nada e não aprenderamos nada.
Pois, de facto, um dos problemas em França, como explicava hoje um jovem francês de pais magrebinos, é que o apelido ainda conta muito na hora de encontrar trabalho. Dizia ele que, com o seu nome, restava-lhe trabalhar em empregos de «terceira» ou de «quarta», independentemente do facto de ter um curso superior e estar habilitado a uma profissão diferente. Pois é...
Papu: texto grande, grande texto. Concordo com cada linha e ainda hoje li precisamente sobre as diferenças entre os modelos francês e inglês. Estás, portanto, mais ou menos a salvo de turbulência, certo?
Oxalá que sim...
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