04 janeiro 2006

Chuva, sol, água e um sorriso para sempre

Aposto que chovia em Évora quando desististe de sofrer. Nos dois dias seguintes fez muito frio e também choveu. Foram os dias mais frios da minha vida. Tinha gasto as lágrimas enquanto vivias, sobraram poucas, ficou um olhar meio ausente, entre um ontem quase esquecido e um amanhã que ainda vou demorar tempo a entender.

Recebi centenas de abraços, por todas as vias possíveis. Foram pingos de felicidade. Já desconfiava que é importante ter gente a gostar de nós; agora tenho a certeza. Não vou dizer que tu eras a pessoa que queria abraçar naqueles dias. Porque te abracei enquanto foi tempo. E vou abraçar sempre que quiser. Eu sei.

Fiquei aliviado por te ter repetido «gosto muito de ti» antes do último beijo das nossas vidas. Acho que o esforço que então fizeste para virar a cara e olhar-me vinha acompanhado de um «eu também». Acho não - tenho a certeza. No fundo, ambos sabíamos que ia acontecer nas horas seguintes, não era?

Não fugi para Lisboa. Apenas quis ver os olhos do meu bebé sorrirem e dar-te a certeza de que o levaria a ver a avó no domingo seguinte, se tivesse havido domingo. Mas ambos sabíamos que não ia haver. Houve apenas um dia qualquer de chuva.

Ao terceiro dia houve sol. Um sol muito brilhante. Disse-te adeus quando passámos pelo sítio do piquenique do Dia da Mãe. A água da barragem brilhava quase tanto como o teu sorriso.

Passaram muitas horas e consigo finalmente voltar a chorar.

10 comentários:

André disse...

Límpido, corajoso e claro, como tu sempre foste.

Um texto muito, muito bonito que, a esta distância, me fez sentir mais perto de ti neste momento de dor.

Um abraço, forte, do Germano

innocent bystander disse...

Estava um sol bem bonito.
Quando saí de casa ainda era de noite, por isso acompanhou-me, acompanhou-nos, desde que surgiu, fraquinho, até dar para nós todos. O Germano disse o resto. Beijo

Sol disse...

Texto bonito, que extravaza sentimentos muito bonitos também... Muita força para chorares tudo o que necessitares.

Rosa disse...

Como não há nada de jeito que se possa dizer, deixo-te um molho de beijos.

Pim disse...

O sol brilhava mesmo muito nesse dia. E, de tão quentinho que estava, tocava-nos como um abraço terno e doce. De tal modo que até a sempre-terrível-durante-o-dia Maria Rita dormiu, dormiu, dormiu como um anjinho.
Abraço forte, xano!

Jo disse...

...
abraço forte e mtos baci.

Baggio disse...

Time works like acid / Stainded eyes / You see time fly / The face changes as the heart
beats & breaths / We are not constant / We are an arrow in flight
(...)

papu disse...

Ó Xano, quase que me fizeste chorar também. Apesar de não nos conhecermos, um abraço apertado aqui de longe. Com lágrimas nos olhos. :*)

Alexandre Pereira disse...

Um abraço enorme para todos. Bom 2006, cá estaremos para rir, cantar, chorar, sofrer, trabakhar, brincar, amar. Obrigado outra vez.

Seamoon disse...

Adorei a forma como meteste em palavras...as palavras escritas ajudam nos bastante.
E fico feliz por teres chorado...eu demorei 5 meses até conseguir chorar a perda do meu pai.

Muita força...
um beijo

seamoon.