Segundo dados da Comissão Europeia, 27 por cento dos europeus sofrem de problemas mentais e a depressão caminha a passos largos para o estatuto de principal causa de doença no (chamado) mundo desenvolvido.
O que é que nos andam a fazer? O que é que andamos a fazer? O que devemos fazer?
23 outubro 2005
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5 comentários:
A pergunta é mesmo. o que é que andamos a fazer a nós próprios?
É sempre difícil encontrar causas para estas coisas, até porque geralmente são muitas, e muitas delas identificáveis, que podem ter a ver com experiências passadas...
Acho que o chamado mundo desenvolvido tem uma grande dificuldade em lidar com os sentimentos negativos, tais como a tristeza, a zanga, a raiva, o ódio, etc. Isto é nítido na forma como lidamos com as nossas crianças. "Vá lá, não chores, então estás a chorar por uma coisinha destas? Não estejas tristes, pronto..." e até entre adultos: "vá, não penses mais nisso, não penses nisso que isso passa!"
Parece que temos necessidade de sacudir a trsteza de nós, de madá-la a todo o custo para trás das costas!
Será que as pessoas já não se lembram (ou nunca souberam) como é bom chorar como estamos tristes? Como é importante exprimir os sentimentos? Vivê-los? Senti-los?
É claro que isto não é todo o problema, mas penso que representa uma parte dele. No mundo menos desenvolvido as pessoas lidam, em regra, melhor com os sentimentos. Muitas vezes estes são extravasados e representados através de rituais que ajudam a sua intergração psicológica.
Quer dizer, não é que as pessoas não sofram menos de tristeza ou de depressão, mas se calhar sabem melhor lidar com elas. E isto é um paradoxo, pois o mundo desenvolvido é que se orgulha da sua técnica e da posse e do domínio da ciência na luta e combate à doença e na promoção da saúde! Pois é, só que às vezes as técnicas não servem mesmo para nada.
Isto das doenças mentais é complicado, porque não há um adoecer físico. A medicina tradicional também sofre com este separar das águas constante, em que o corpo humano é tratado como uma máquina, em que apenas se combatem sintomas sem querer saber das verdadeiras causas para nada. Mas na saúde mental esta prática tem consequências desastrosas. Quando apenas se medicam as pessoas e apenas há a preocupação com a erradicação dos sintomas, a depressão acentua-se, agrava-se, alastra na sombra. Mesmo que por fora tudo pareça estar a funcionar melhor.
É claro que depois há uma minoria priveligiada que vai ao psicólogo ou ao psiquiatra e faz uma psicoterapia e melhora, mas a maioria não tem acesso a isto. A maioria toma medicamentos e quanto a falar sobre os seus sentimentos, encolhem os ombros.
É caso para dizer, mais valia irem ao bruxo ou ao parapsicólogo ou ao astrólogo (e atenção que nestas profissões também há técnicos competentes). É que ao menos aí se calhar podiam falar, desabafar, encontrar alguma empatia e algum eco para os seus problemas...
Eh pá, isto dá pano para mangas, acho que vou parar por aqui.
Perspectiva interessante, a da necessidade de conversar. Acho que «o ponto» não anda longe daí. Daí e do tempo que não temos para nós próprios e para os nossos.
Xano, estás lá. Um facto que tem tanto de preocupante quanto de elucidativo. Papu, o que essencialmente me preocupa é uma "doença" que tem raízes na opressividade generalizada e tirânica de um sistema especializado em triturar homens sob a lei única do lucro. Daí, passando pela estruturação nuclear da família - ela própria já atomizada, mutilada, individualizada - sobressai uma equação problemática de cariz macro-social. Nós somos vítimas sim, mas enquanto massa amorfa apenas desigual no código hierárquico e social. "Liberdade, Igualdade e Fraternidade." Onde temos nós isso hoje? Que tempo temos para os nossos pares queridos? Para a sedimentação da nossa personalidade? Para a aprendizagem, o aperfeiçoamento pessoal? Não temos horas de ócio qualitativo. Logo, a parte menos igual de nós (pois alguns de nós são mais iguais do que outros), porventura a grande parte, não tem liberdade real. Se a isso se adicionar a incapacidade (leia-se "falta de dinheiro") de concretizar desejos ou até necessidades, o problema agrava-se determinantemente. O trabalho, tal como se nos apresenta, é uma fuga constante de nós mesmos se não tivermos o sagrado privilégio de fazer o que mais gostamos, como gostamos: o que de nós brota inatamente. Não me querendo alongar, imagine-se a imagem satélite das vias urbanas de uma metrópole em hora de ponta e estabeleça-se uma analogia com as micro-artérias que circulam pelo nosso corpo e transmitem impulsos nervosos, vias de outra espécie, mas também enegrecidas pelos fumos, cinzentas, atemorizadas pelo ruído, intranquilas, congestionadas, doridas. Daí a opressão, a agonia, a solidão, a depressão. A sociedade deveria contribuir definitivamente não apenas para o bem comum, mas também para a integração fraterna do indivíduo sem uma política competitiva depredadora de "matar ou morrer". Mas como as guerras também ainda não foram erradicadas da política internacional, trata-se, de facto, de uma utopia: algo que ainda não existe em parte nenhuma.
Sem dúvida, "All you need is love".
As raízes da depressão estão mais nas vivências passadas de casa indivíduo do que na opressão da sociedade, na minha opinião. E lá em cima quando escrevi que as suas causas são "identificáveis" esqueci-me do "dificilmente".
É claro que acho que o contexto social agrava e alimenta este cariz depressivo. Mas se nos limitamos a ele ficamos com uma visão restrita do problema, e ficamos apenas com o papel de vítimas incapazes de resolver o problema, por si. Isto é, ficamos esmagados sob este peso.
Como pessoas temos a capacidade de melhorar, de nos conhecermos melhor, de irmos lá atrás em busca das possíveis raízes da nossa tristeza, de oferecermos um espaço de qualidade afectiva e de respeito pela sua individualidade e liberdade aos nossos filhos. A liberdade existe quando tomamos opções em consciência e ligadas àquilo que, afectivamente, somos e sentimos.
O que acontece, na minha opinião, é que o sistema social que criámos à nossa volta não ajuda - mas mesmo neste sistema tirano e inumano há quem consiga ser feliz e sentir-se bem consigo mesmo, apesar de tudo. E não estou a falar daqueles que se adaptam ao sistema à custa de uma alienação pessoal de sentimentos e frustrações - estou a falar de quem consegue lidar com toda esta agressividade envolvente, com a depressão, com a tristeza, e plantar ainda assim uma flor rara no seu jardim. De quem consegue ver o sol brilhar por detrás das nuvens.
Não somos coitadinhos, cada um de nós é responsável pelas atitudes e opções que toma ao longo da vida, e antes de usarmos um bode expiatório para os nossos males era melhor que olhássemos para dentro. Porque na maior parte das vezes a origem do grande mal comum está no interior de cada um, e pequenas mudanças podem trazer grandes mudanças.
Isto também pode ser uma utopia, mas acredito mais na nossa capacidade de mudança enquanto humanos do que na irremediabilidade do sistema social que criámos.
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