26 fevereiro 2008

O mapa das vertigens

Há as vertigens. Depois há os momentos em que planamos, leves e seguros, momentos em que reconhecemos o que está lá em baixo e gostamos de andar lá em cima, na convicção de uma aterragem feliz.

Depois há outra vez as vertigens. Rápidas, vorazes, alucinantes.

Há as esperanças e os medos. A esperança de já sermos melhores, agora que sabemos mais de nós, e o medo de nunca o conseguirmos ser, agora que continuamos um mistério tão grande.

Há as certezas dos afectos eternos e as incertezas do mapa de nós que dificilmente decifraremos em vida e certamente nos será vedado depois da morte, porque mortos estaremos.

Há o consolo de um abraço, o conforto de uma palavra ou de um silêncio. Há o temor de um abraço, o desconforto das palavras e dos silêncios.

Há uma corda bamba sobre a qual, loucos por nós próprios, até chegamos a correr. Depois há uma estrada firme onde mal nos atrevemos a dar um passo com medo que a terra se abra de repente. Ou se reabra de repente.

Há âncoras às quais nos agarramos e sabemos que não nos deixarão ir ao fundo, por mais que o mar nos açoite. Há ondas que nos levam sem percebermos quando nos enrolaram ou quando já somos só uma parte da espuma que abraça a areia das praias.

Há muito, há tanto! E por haver tanto, por haver muito, há que caminhar. Nadar, flutuar, planar e voar.

Aterraremos todos no mesmo sítio. Já sem olhos, então, para ler o nosso mapa.

2 comentários:

Lunatic on the grass disse...

Hã? :)

Alexandre Pereira disse...

Pronto, ainda bem que isto não vai a concurso...