20 julho 2003

Criado no pior dia da semana

De repente, um amigo dos jornais desafia-me para escrever num blogue sobre futebol. Não representa grande variação no meu dia-a-dia, visto que trabalho num jornal desportivo. Aceito, entusiasmo-me e em menos de 24 horas «publico» quatro posts.
Um pouco menos de repente, vem-me à ideia que a vontade de escrever me tem assaltado com maior frequência. Nas últimas semanas demarquei a escrita de um futuro livro como objectivo da minha vida. Tendo a achar que antes dos 50 anos, mais coisa menos coisa, nenhum homem tem maturidade para o fazer. Pelo menos para fazer bem. As mulheres sim. Se me perguntarem porquê digo que é por causa daquela história de amadurecerem mais depressa. Se insistirem, confesso que não sei bem porquê, mas que acredito ser assim. Pronto. A internet é o espaço de liberdade por excelência, posso muito bem afirmar os meus dogmas sem ter que justificá-los.
Ia, portanto, na vontade de escrever um livro. Pensei, nestas semanas, que a meta dos 50 anos é viável, mas fica seriamente comprometida se não começar já a treinar. Pedi à minha mulher que me comprasse um caderno onde pudesse tomar notas. Ela ainda não o comprou, mas admito que o facto de entretanto termos sabido que está grávida seja mais importante. Para mim também, claro. Por outro lado, este filho-que-ainda-não-é-bem-mas-já-vai-sendo-muito pode ser um óptimo pretexto para desatar então a escrever. Vai ser, pelo menos hoje!
Sem caderno — e ainda por cima com a frustrante limitação de não perceber a minha letra se deixar passar mais de 24 horas sobre o que escrevi — decido-me então pelo computador. Quer dizer, em boa verdade já tinha decidido, mas as chegadas tardias a casa desaconselharam-me, dia após dia, o desafio de sentar-me no escritório. Até que chegou o dia de hoje. É domingo e os domingos são uma mancha na minha vida. Por mim terminavam por decreto, extinguiam-se como os feriados que calham às terças e às quintas, sei lá. Num destes posts talvez explique melhor esta coisa dos domingos. Fica já dito, seja como for, que se trata do pior dia da semana e que portanto este blogue tem tudo para dar errado. Se já não bastasse a qualidade (ou falta dela) do autor, ainda tem este estigma de nascer ao domingo. E chega, para já, de insistir nesta palavra, visto que estamos perante um caso em que o significante é tão feio como o significado.
Se alguém leu até aqui, vou então avançar qualquer coisa sobre o que me proponho fazer: 1) soltar-me para a escrita sem caminhos pré-definidos (acho que o treino tem de começar por aqui, afinal ainda faltam mais de 20 anos até à altura de ousar escrever um livro); 2) tentar construir algo de semelhante a um diário, obviamente sem obrigações diárias, passe a repetição, e com liberdade total para discorrer sobre o que bem me apetecer; 3) provavelmente, não dizer a ninguém que isto existe; 4) tentar cumprir o postulado anterior, sem garantias de sucesso porque vou-me conhecendo mais ou menos; 5) ser selectivo com o número de pessoas a quem vou contar; 6) ler frequentemente o que vou escrevendo; 7) desistir assim que me apetecer ou logo que perceba que mais vale estar quieto; 8) procurar saber como posso colocar algures um e-mail através do qual os eventuais aventureiros da net que passem por aqui sejam capazes de contactar-me para o que bem entenderem

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