19 novembro 2009

Uma certeza

Por muito que tentemos, nunca saberemos ao certo quando as coisas começam a acabar.

12 novembro 2009

Redenção I (e porque não sei escrever tão bem como ele. E como ela. Como eles todos)

Foste como quem me armasse uma emboscada
Ao sentir-me desatento
Dando aquilo em que me dei

Foste como quem me urdisse uma cilada
Vi-me com tão pouca coisa
Depois do que tanto amei

Resgatei o teu sorriso
Quatro vezes foi preciso
Por não precisares de mim

E depois, quando dormias
Fiz de conta que fugias
E que eu não ficava assim
Nesta dor em que me vejo
De nos ver quase no fim

Foste como quem lançasse as armadilhas
Que se lançam aos amantes
Quando amar foi coisa em vão

Foste como quem vestisse as mascarilhas
Dos embustes que se tramam
Ao cair da escuridão

Resgatei o teu carinho
Quatro vezes fiz o ninho
Num beiral do teu jardim

E depois, já em cuidado
Vi no espelho do passado
A tua imagem de mim
E esta dor em que me vejo
De nos ver quase no fim

Foste como quem cumprisse uma vingança
Que guardavas às escuras
Esperando a tua vez

Foste como quem me desse uma bonança
Fraquejando à tempestade
De tão frágil que se fez

Resgatei o teu ciúme
Quatro vezes deitei lume
Ao teu corpo de marfim

E depois, como uma espada
Pousei na terra queimada
O meu ramo de alecrim
E esta dor em que me vejo de nos ver perto do fim.

Sérgio Godinho, in "Emboscadas"