28 fevereiro 2008

Dos cheiros e dos livros

Vamos ao fim da rua, vamos ao fim do Mundo


O meu pai mudou o rádio de sítio por aqueles dias. Queria apanhar «uma rádio nova só de informação» de que ouvira falar. Nesse tempo, captar ondas do éter em Queluz nem sempre era fácil. Encontrou finalmente um sítio. Era numa divisão comum do apartamento que fazia ao mesmo tempo de corredor e hall. Paciência - era ali que se ouvia a TSF, em 102.7.

Ainda pirata mas já tão boa, tão diferente. Lembro que era o tempo do monopólio da TV estatal. Eu era novito, acho que ainda não fazia a barba. Mas sei perfeitamente que o bichinho do jornalismo, nascido sobre páginas de jornal, se alimentou rapidamente daquela nova forma de intervir. Cresceu, desenvolveu-se, jornalista sou hoje.

Como sucede com tudo e todos, não falta quem diga que a TSF «está cada vez pior». Tirando no que respeita ao Benfica, ao Sporting e a meia dúzia de restaurantes, normalmente isto é só vontade de dizer mal e mania de que «no nosso tempo é que era».

20 anos depois eu e o meu pai - hoje no Alentejo com direito a frequência regional - já não precisamos de mudar o rádio de sítio (a não ser, no meu caso, o do despertador, de vez em quando). É tudo automático. Pela parte que me toca, 89.5 continua na posição 1 em casa e no carro.

Parabéns, TSF.

26 fevereiro 2008

O mapa das vertigens

Há as vertigens. Depois há os momentos em que planamos, leves e seguros, momentos em que reconhecemos o que está lá em baixo e gostamos de andar lá em cima, na convicção de uma aterragem feliz.

Depois há outra vez as vertigens. Rápidas, vorazes, alucinantes.

Há as esperanças e os medos. A esperança de já sermos melhores, agora que sabemos mais de nós, e o medo de nunca o conseguirmos ser, agora que continuamos um mistério tão grande.

Há as certezas dos afectos eternos e as incertezas do mapa de nós que dificilmente decifraremos em vida e certamente nos será vedado depois da morte, porque mortos estaremos.

Há o consolo de um abraço, o conforto de uma palavra ou de um silêncio. Há o temor de um abraço, o desconforto das palavras e dos silêncios.

Há uma corda bamba sobre a qual, loucos por nós próprios, até chegamos a correr. Depois há uma estrada firme onde mal nos atrevemos a dar um passo com medo que a terra se abra de repente. Ou se reabra de repente.

Há âncoras às quais nos agarramos e sabemos que não nos deixarão ir ao fundo, por mais que o mar nos açoite. Há ondas que nos levam sem percebermos quando nos enrolaram ou quando já somos só uma parte da espuma que abraça a areia das praias.

Há muito, há tanto! E por haver tanto, por haver muito, há que caminhar. Nadar, flutuar, planar e voar.

Aterraremos todos no mesmo sítio. Já sem olhos, então, para ler o nosso mapa.

20 fevereiro 2008

Amor é...

... reconhecermo-nos numa ou noutra música e, mais do que isso, ouvir o compositor no rádio, dias depois, falar dela - da música - exactamente da forma que a sentimos. Há gente que escreve e canta e nos atravessa os dias. Os bons, os maus, os mais ou menos. Podem estar quietos nas estantes durante meses, mas voltam sempre que é preciso. Não foi a primeira vez que o Godinho me fez a banda sonora. Não terá sido certamente a última. Quem disse que as Noites Passadas não se reinventam?

03 fevereiro 2008

2.º andar A/ 4.º andar B

«... mas tem cuidado,
trata-o bem,
muito bem de mansinho
que ainda agora
vai pisar outro caminho»

Para ti (sabes quem és?)

Que rua tão torta e tão longa, a do amor
Que vento tão forte lá sopra, é o do amor
Por vezes parece uma rua assombrada
Com sombras de bruxa fazendo de fada

Que faço eu na rua deserta do amor
Não há uma só porta aberta pró amor
Por vezes lá se abre uma frincha de nada
Na porta do amor que eu queria escancarada

Sérgio Godinho, «Amores de Marta»

Mais leituras aqui

As cancelas

O domingo é um péssimo dia para tentarmos apanhar os restos de nós que vamos deixando espalhados em casas, nos carros, nos caminhos que fazemos. Esses mesmo - nos quais encontramos tantas cancelas fechadas nas encruzilhadas. As cancelas que abrimos de olhos fechados, a sonhar, e estão presas com ferrolhos quando acordamos. Seja domingo ou segunda-feira.

02 fevereiro 2008

Puuuuuuuxa!



Não era fácil apostar nesta moça quando ela era a Floribella. Mas juro que o fiz, bem como mais dois ou três amigos. A FHM esgotou, diz-me um deles... Cum cacete!

Foto daqui

01 fevereiro 2008

É a vida, já dizia o outro

É espantosa a rapidez com que algumas coisas passam e incrível a lentidão com que algumas coisas não passam. Isto é La Palisse?