31 agosto 2005

Encantos

Este poeta eu sei que nunca me deixaria ficar mal. Mesmo que quisesse um dia ser candidato à presidência da República. Foi aqui que soube da existência de um grupo de admiradores de Jorge Palma que começou a juntar-se para conversar, cantar, estar. E tudo começou no Palma. Acho encantador, penso que se calhar um dia arrisco aparecer por lá e vou adormecer com esta letra a embalar-me:

Andava eu sem ter onde cair vivo
Fui procurar abrigo nas frases estudadas do senhor doutor
Ai de mim não era nada daquilo que eu queria
Ninguém se compreendia e eu vi que a coisa ia de mal a pior

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Andava eu sózinho a tremer de frio
Fui procurar calor e ternura nos braços de uma mulher
Mas esqueci-me de lhe dar também um pouco de atenção
E a minha solidão não me largou da mão nem um minuto sequer

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal
Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Se queres ver o Mundo inteiro à tua altura
Tens de olhar para fora, sem esqueceres que dentro é que é o teu lugar
E se às duas por três vires que perdeste o balanço
Não penses em descanso, está ao teu alcance, tens de o reencontrar

Na terra dos sonhos...

30 agosto 2005

Como a pressa nos faz parvos

Pronto, confesso: não ouvi toda a declaração de Manuel Alegre. Só algumas partes, por sinal tocantes. Confiei no que disse o repórter da televisão: «Manuel Alegre é candidato e adversário de Mário Soares». Ouvi o comentador de serviço. Reagi na hora, assim bem ao estilo da sociedade da internet. Está no post abaixo. Acabei de escrever e estava o mesmo repórter a entrevistar Alegre. Que afinal disse discordar da candidatura de Soares, mas frisou que não iria fracturar a esquerda, tendo por isso decidido não se candidatar. Podia apagar o post de baixo e tudo bem, mas não quero. É um «mea culpa». Afinal, fui tão precipitado como o repórter de televisão. Mas pronto, pelo menos percebi o Português e não continuei, depois de ouvir Alegre pela segunda vez, a dizer que «ele ainda não decidiu se se candidata ou não».

As palavras do poeta

Manuel Alegre é candidato à presidência. Resta saber se vai a votos. Para já segue na frente porque falou muito bem. Porque é um poeta e sabe usar as palavras. Porque até em «politiquinha» (a política que existe, a que praticamos, aquela em que só se contam espingardas e não se debatem ideias), é sempre importante «alguém que diz não». Mesmo que depois de amanhã desista em nome da politiquinha dos outros.

Lá vêm eles!...


Adeus Lisboa da calmaria; adeus lugares de estacionamento; adeus vias desimpedidas; adeus restaurantes com mesa à sexta e ao sábado à noite; adeus domingos com menos fatos-de-treino e crucifixos a sair das camisolas de alças; adeus IC 19 quase saudável; adeus, até ao próximo Agosto. Cá estaremos, firmes, enquanto eles, que amanhã voltam como formiguinhas, rumarão de novo aos Algarves. Assim a crise desacelere...

Mau gosto

Há dias assim: andava eu desde manhã cedo à procura de um motivo para escrever aqui uma piada brejeira, fácil e de mau gosto quando o DN me ajudou através de uma simples breve: o novo director da «New Yorker» chama-se Louis Cona.

Estão a ver a cena se um famoso comentador desportivo fosse leitor da revista com os melhores desenhos do Mundo? Estou a falar daquele que uma vez chamou «Vaginadu» a um ganês do Leiria que respondia por Konadu. Pronto, já desabafei, prometo melhorar no próximo post...

29 agosto 2005

Os filhos da economia de mercado e os filhos da puta

A discussão ideológica fica para outra altura. Ou não, enfim, comentem o que quiserem. Queria só anotar que o «Diário do Povo», órgão oficial do Partido Comunista Chinês, e portanto da China, anunciou uma «campanha de purificação» da comunicação social. Livros, jornais e produtos audiovisuais vão ser, basicamente, alvos de censura, com castigos previstos para quem os venda e difunda.

O interessante da questão é que se isto se passasse em Cuba ou na Coreia do Norte teríamos o «mundo livre» num coro uníssono a condenar nova travessura de um estado comunista. Como se trata, pelo contrário, de um país «de enorme potencial», membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, com uma «economia de mercado fluorescente», um parceiro incontornável, o «tigre renascido da economia mundial» e etecetera e tal, está tudo mais ou menos OK. Ou seja: se fosse o Fidel ou o Kim Jong II, tínhamos bandido com cara e nome. Mas como se chama o primeiro ministro chinês, mesmo?...

27 agosto 2005

Hão-de chegar as fotos

Está mesmo a apetecer-me pôr aqui umas fotos de Veneza. E mais uma ou outra que trouxe de Itália. Mas ainda não tive tempo. Talvez logo à noite, talvez. Olha, se fosse o Ricardo já podia deitar mãos à obra: ficou em casa durante o fim-de-semana e protagonizou a pior notícia da semana para os benfiquistas: não joga no derby de Alvalade, dentro de 15 dias...

Isso é que eu gostava

A caminho da meia idade (bom, ainda um bocadito longe, pronto), não via com maus olhos um emprego que passasse por escrever meia página, uma vez por semana, a gozar e glosar o trabalho dos outros.

Não deve ser má vida: folheia-se uns jornais e umas revistas, topam-se as coisas mais fora do normal, escolhem-se uns ódios de estimação, mais umas embirraçõezinhas avulsas para compor o ramalhete e já está.

Depois só falta escrever. Esta parte é difícil, porque quem está tão à vontade para atirar pedras aos outros tem de ter sempre telhados de betão. E nem sempre tem, mas adiante. Adopta-se então um tom, escrevem-se uns caracteres, poucos, e a semana está ganha. Presume-se que com ordenados principescos, porque não é em vão que se atinge o estatuto de observador-Deus-infalível.

O pessoal que se dedica a esta faina tem um problema grave: como nunca ou raramente teve uma ideia na vida, embirra gratuitamente com quem faz algo um nadinha diferente do habitual. Mas percebe-se: afinal, uma mente de génio gastar semanas inteiras a ler os outros ignorantes...

26 agosto 2005

Viva

Claro que isto não interessa a quase ninguém, mas voltei. Já voltei anteontem, mas só agora tive tempo de dar aqui uma voltinha. Está tudo na mesma, sensivelmente, o que é sempre bom sinal.

Estive mesmo em Veneza. Andei de gôndola. Um dos meus companheiros disse que ficaria toda a vida a achar-se «urso» se tivesse estado lá sem experimentar a dita. Acho que ele tem razão. Daqui a nada volto com umas fotos, talvez.

23 agosto 2005

Rapidinha

Aqui é Trieste, ponta direita da parte superior da bota italiana, com terraço a dar para a Áustria e a Eslovénia. Já tirei uma fotografia ao lado de uma estátua do James Joyce em tamanho real. Parece que ele passou aqui uns tempos e gostava de cá estar. Tive sorte: há uns meses estive em Dublin, a terra dele, e também o deixei entrar numa foto para o meu álbum. Dá uma montagem gira para pregar com pioneses num quadro de cortiça. Agora só falta a coragem para o «Ulisses». Mas sei que lá chegarei. Juro a mim próprio.

Estou com pressa, sai esta rapidinha para pedir ajuda a eventuais especialistas do comportamento que passem por aqui: há dois dias, no aeroporto de Milão, ia com dois colegas portugueses apanhar um voo para Veneza (siiiim, amanhã, depois dos futebóis, acho que vou ter tempo de ver; e prometo, João, não tentar levar o carro até à Praça de São Marcos!); adiante, mostrei o cartão de embarque a seguir a uns espanhóis, o senhor da Alitália falava espanhol, disse «gracias» aos da frente, disse «gracias» aos de trás (os outros portugas que me acompanharam) e depois de olhar de relance para a minha foto no passaporte atirou um «thank you». Dúvida: isto é bom ou mau? Tenho ar de tunisino/turco/marroquino? Ou um distinto «je ne sais quoi» da Europa civilizada, onde para ele, italiano, se fala em inglês? Morrerei com a dúvida. «Ciao, belle»...

20 agosto 2005

18 anitos...

Não é que grame por aí além o Ricardo. Mas adoro este miúdo. Ele não precisava de dizer isto. Adoro-o:

«Queria deixar uma mensagem... Toda a gente comete erros e os adeptos não deviam assobiar o Ricardo, que já deu muito ao Sporting e vai continuar a dar»

João Moutinho, na TVI, após o Sporting, 2-Belenenses, 1 (no qual, para quem não sabe, o Ricardo refrangou à grande e à francesa!)

19 agosto 2005

Isto interessa a alguém?

Andava há uns dias na gaveta dos pendentes. Não sei se interessa a alguém, mas um pedido é um pedido, enfim. Cá vai:

Idiossincrasias - as 5 menos:
Gente que estaciona nos passeios e nas passadeiras
Gente que não apanha a merdinha feitinha pelo cãozinho numa rua que devia ser de todos
Cães no meio da rua sem açaime («não faz mal, não morde»... até ao dia em que o meu filhote levar uma dentada de um)
Fumadores que não percebem o óbvio – entre os direitos deles e os de quem não fuma, só uns podem prevalecer
Energúmenos que atiram lixo para o chão

Idiossincrasias - as 5 mais:
Sorrisos que incluam os olhos
Perfumes de mulher
Chinelos/havaianas em pés de mulher
Empregados/donos de cafés e restaurantes que me façam sentir em casa
Gente capaz de um gesto solidário, por ínfimo que seja ou pareça

5 albums: Xiiii, complica-se...
Bora lá (amanhã pode ser totalmente diferente):
Canto da Boca – Sérgio Godinho
Escritor de Canções – Sérgio Godinho
Só – Jorge Palma
Outras Palavras – Caetano Veloso
Under a Blood Red Sky – U2

5 canções:Isso atão... Como me posso lembrar agora? Vou tentar:
Espalhem a Notícia – Sérgio Godinho
Passos em Volta – Jorge Palma
Steal my Kisses – Ben Harper
She – Elvis Costello
Só Eu Sei – Juventude Leonina, versão estádio no ano do SuperMário

5 albums no IPOD (isso é aquilo que faz uma pessoa parecer um zombie no meio da rua mas não é um walkman? Não uso. Vamos para escolha de carro, como outros antes de mim)
Afinidades – Clã e Sérgio Godinho
Out of Season – Beth Gibbons and Rustin Man
Esperanza – Manu Chao
Um qualquer – Chico Buarque
Campolide – Sérgio Godinho

5MP3s na playlist (isto é músicas soltas outra vez, certo? No computador é mais palhaçada para rir ao fim da noite, tipo...)
Vinho Verde – Paulo Alexandre
E Depois do Adeus – Paulo de Carvalho (desta gosto mesmo à séria...)
Cabana – José Cid
Mula da Cooperativa – Max
Ontem ao Luar – Vicente Celestino (saudades...)

Os 5 blogs para onde isto segue:
Oh pá... Cheira-me que a pouca malta que conheço destas andanças já respondeu. Pega, Jo; Alex, um desafio?; São Bento, alinhas? Vá lá, Rosa; e alguém da Pais e Filhos. Iupi, consegui!

Dias felizes

É tarde, vou finalmente ver a lua que recomendam aqui. É sobretudo depois destes dias cheios e intensos (de trabalho, entenda-se com algum lamento à mistura) que tenho saudades de fumar. Ia saber bem, daqui a nada, com a janela do carro bem aberta a gozar os primeiros sopros de vento e esse ainda tímido frio que enfim nos veio aliviar a tortura que tem sido este Verão.

Mas pronto, obviamente não vou fumar e o importante mesmo é que entrámos em contagem decrescente para um dos momentos mais felizes de cada Agosto que passo.

Podem pôr as cervejas a gelar no frigorífico; podem recomeçar a agendar os fins-de-semana com cuidado; podem preparar-se para sofrer; podem vibrar, sentir, roer as unhas, pôr o cachecol, chorar; podem gozar os espectáculos, mesmo que sejam mauzitos; podem sonhar; podem alienar-se; podem utilizar os lugares-comuns todos que quiserem: VAI COMEÇAR O CAMPEONATO! Há horas sublimes...

18 agosto 2005

P. S.

Em relação ao post anterior, antes que chovam comentários: claro que o homem tem direito às férias, claro que o facto de ele estar em São Bento ou no Quénia não ia fazer diferença quanto à área ardida. Era - teria sido - apenas uma questão de bom senso, de solidariedade para com as vítimas dos fogos, de sentido de Estado, ou lá como se diz quando convém. Até porque no Quénia o tempo costuma estar bom para safaris noutras alturas do ano. Mas pronto, cada um sabe de si e assim de repente nem vejo razão nenhuma para o primeiro ministro ser diferente...

Eu ouvi!

Juro que ouvi, acabo de ouvir e estou capaz de garantir que passa em directo na televisão. José Sócrates disse «este é o momento de combater os incêndios». «Este» momento? Qual, «este» agorinha, hoje, 19 de Agosto? Mas será que este homem esteve de férias no Quénia enquanto o País ardia?

Que tem a Sport TV a ver com as presidenciais?


Há coisas que só acontecem a quem tem Sport TV. Uma é constatar o quão mau é o serviço monopolístico da TV Cabo. Outra é, por exemplo, ver um documentário sobre combates de boxe míticos. Só hoje aconteceram-me as duas coisas. Interessa mais, agora, falar da batatada.

No centro do documentário só podia estar um homem: Cassius Clay, ou Muhammad Ali, conforme a sensibilidade (isto não está para brincadeiras quanto a alta religião...). Combate para aqui, combate para ali e lá chegámos ao terceiro que teve com Joe Frazier, que ao que parece ficou mesmo Joe para o resto da vida.

O combate do século, a coragem, a bravura, os limites da condição humana, a transcendência do boxe - não discuto os conceitos, mas que foram aplicados por toda a gente que andava naquela história, lá isso foram. Interessa-me mais perceber por que raio me fui eu lembrar, logo ali a meio do combate, de Mário Soares e Cavaco Silva...

Um dos boxeurs desistiu à entrada do último assalto, quando já nenhum deles parecia aguentar-se de pé. O outro, claro, ganhou. Qual terá sido?

À mão


17 agosto 2005

OK, fui injusto


Pronto, a revista chegou, estava cá pela fresquinha e veio mesmo de estafeta. Não foi bem «ontem à tarde», mas mesmo assim bem melhor que o normal. Agora a ver se esta semana aparece na caixa do correio no dia certo...

Agora discutam...

Já percebi que isto quando a malta se aproxima ou passa os 30, mais coisa menos coisa, começa a falar de beleza, glamour e sex-appeal sem os preconceitos da adolescência ou da pequenez de espírito. Ou seja: alinha nas conversas do sexo oposto, não se importando de dar uns palpites sobre gente da mesma equipa. As coisas até correm bem, embora continue a parecer-me impossível que as mulheres não percebam que o Rodrigo Santoro tem ar de maricas. Também lhes custa entender que a Catarina Furtado é MESMO gira (e agora ex-namorada de nós, Portugal...) ou que a Emanuelle Seigneur transpira sexo. Mas isso são os pormenores que (felizmente) nos ajudam a perceber que ainda há diferenças entre homem e mulher.

Não sei se é do calor, mas nos últimos dias tem havido muita conversa dessa no meu planeta, por isso decidi deixar aqui umas cábulas, com o pré-aviso de que em relação a mulheres a classificação geral muda mais ou menos semanalmente:

Mulheres mais:
Michelle Pfeiffer em contagem especial, fora das classificações. não muda
Kristin Scott-Thomas
Catarina Furtado
Scarlett Johansson
Juliette Binoche
Nicole Kidman
Maria Sharapova
Penélope Cruz (Tom Cruise, 2-Nós, 0)
Maria Fernanda Cândido, ou lá como se chama
A minha tia Paula (quem conhece sabe do que falo)

Homens mais:
Sean Penn
Jeremy Irons
Brad Pitt
Fabio Canavaro
Sean Connery
Nélson Feiteirona (quem conhece sabe do que falo)

Mulheres que parecendo mais... são-me menos:
Angelina Jolie
Merche Romero
Jennifer Aniston
Claudia Schiffer
Maitê Proença

Homens da tanga:
Rodrigo Santoro
Alexandre Frota (eh eh eh)
Alessandro Nesta
Alejandro Sanz
Julio Iglésias

Quando a esmola é grande...

Bem me parecia tudo perfeito de mais: o estafeta não apareceu com a revista... (ver dois posts abaixo)

16 agosto 2005

Nunca tinha desconfiado

A Victoria Beckham confessou numa entrevista nunca ter lido um livro na vida. O grande desafio era os jornalistas serem capazes de perguntar isto a mais uma série de personagens. Vou deixar a minha short-list, aceitam-se mais sugestões:

- Cristiano Ronaldo
- Tony Carreira
- George W. Bush
- Cândido Barbosa
- Maya
- As Fanáticas do Record e as Belas e Perigosas do 24 Horas
- Marcelo Rebelo de Sousa (este só para saber se leu algum inteirinho, sem ser naquela diagonal que lhe permite aconselhar 20 livros por semana)
- José Peseiro (ou será que se fica mesmo pelos resumos da mulher?)
- Bárbara Guimarães
- O presidente dos EUA

Isto, em Portugal? Nãããão...

Não queria acreditar: «Sim senhor, senhor Alexandre, vou já fazer o pedido e ainda esta tarde passará por aí um estafeta para lhe levar a revista.»

O quê???? Não me perguntaram quantas pessoas vão à minha caixa de correio, não puseram a hipótese de ter sido roubado, não culparam os correios, nem sequer insinuaram que lhes estivesse a mentir para ficar com outra revista, que já se sabe que a malta gosta de ter duas para ler, uma na sala outra na casa de banho. Nada. Até fiz mais uma pergunta só para ouvir de novo: «Muito obrigado pelo seu contacto, senhor Alexandre, hoje mesmo um estafeta leva-lhe a revista a casa.»

Pasmei. Será que Portugal está a mudar, ainda que devagarinho, ou a secção de assinantes da Visão é uma excepção assim ao estilo da Microsoft (ver post anterior)? Seja como for, gostei.

15 agosto 2005

É difícil perceber?

De cada vez que tenho tempo de ler um número do DNa, lamento todos os outros que apesar de comprados ficam esquecidos ali num sofá até irem para a reciclagem.

Esta semana, o melhor suplemento (se calhar o melhor produto) da imprensa portuguesa traz-me quatro exemplos de coisas que correm bem no País. Gosto quando o jornalismo dá bons exemplos. Há quem não perceba à primeira, mas é uma forma de denúncia tão ou mais forte que escavar nas desgraças.

Li e deixei imediatamente o Cândido-Vítima-Coitado-Barbosa a correr pelo sonho dele ali na TV para dizer o seguinte:

- Sei que é difícil motivar gente como a do hospital de Coimbra, onde não há listas de espera, mas fossem todos os médicos assim e meio caminho estava andado

- Passo à frente da casa de repouso de Carnaxide. Embora louvando a forma de trabalhar, constato que a Sónia Morais Santos nem teve coragem para publicar os preços. Deve ser coisa pouca...

- Chego por fim ao mais importante, para não acontecer tudo como na minha vida profissional: será preciso ter o dinheiro da Microsoft para perceber que empregado bem tratado é empregado mais eficiente?; será preciso ser-se comunista, barbudo, utópico ou mesmo Deus para entender que «se a escola trata as crianças como idiotas elas comportam-se como idiotas»? Para ver o meu filho na Escola da Ponte estava capaz de ir morar para as Aves, já dizia a minha mulher, que modéstia à parte escreveu há uns anos um texto tão bonito e bom como esta escola de sonho...

14 agosto 2005

Só duas notinhas

Para não transformar isto num blogue sobre futebol (cruz credo, já me chega o que chega!), juro que tão depressa não volto ao tema. Mas não resisto a duas notinhas mais:

1) O caso do Nuno Valente no FC Porto é triste. Nestas guerras com as selecções os clubes têm razão quando falam de quem paga os ordenados; mas esquecem-se com grande facilidade dos milhões que já fizeram, e hão-de-fazer, depois de os jogadores terem jogado nas selecções, as verdadeiras grandes montras do futebol mundial (vide selecção brasileira, até se pelam por ter uma internacionalizaçãozinha no currículo...)

2) Gosto da ideia de «BI colectivo». Carvalhal, treinador, diz que o Belenenses já tem um. Boa sorte.

Não há volta a dar


Terceiro minuto de três de desconto, 0-0, o mija-na-escada acaba de falhar um golo na cara de Cech; na joga seguinte, a dois segundos do apito final, Crespo marca um golaço para figurar no «best of» de Natal da Liga inglesa. E assim começa Mourinho o campeonato. Será que quando vier para a Selecção a boa onde se mantém? Ao menos isso... (Imagem chadelimao.weblog.pt)

Orgulho luso-irlandês


Já sei que vão levantar-se mil vozes a dizer que Jorge Sampaio exagerou na condecoração, entrou numa de país saloio e tal. Dou isso tudo de barato, descontando mesmo as diatribes dos intelectuais de pacotilha, aqueles que falam do lado comercial dos U2 e de como eles eram bons quando ainda ninguém os conhecia (a não ser eles, claro).

Para mim foi emocionante ver o meu presidente (poderei chamar isto ao próximo?) condecorar a minha banda de referência, ainda que hoje por hoje talvez não seja a preferida. Já nem paciência teria, desconfio, para ir os ver na confusão de um estádio. Mas gostei de os ver em Belém. E pensar que um dia nos chamaram «geração rasca», quando aquele álbum ali da foto era a melhor coisa que se podia ouvir no Mundo!...

13 agosto 2005

24 Horas 17 facadas à frente


Espero ver isto esclarecido durante a semana: o 24 Horas diz-me que o taxista (mais um!) que foi assassinado ontem sofreu 27 facadas, o Correio da Manhã fala apenas em 10. Em início de época já é grande avanço pontual para o diário da Av. Liberdade...

Mais a sério: é tempo de proteger esta gente com um bom sistema de emergência, não? E com a obrigatoriedade de um vidro protector entre os bancos da frente e os de trás, por exemplo.

Explique lá devagarinho, dra.

Fátima Felgueiras, que começou por confundir-se com a autarquia no nome e pelos vistos foi por ali fora até saberão os tribunais onde, declarou ao Expresso que não pedirá imunidade eleitoral quando regressar a Portugal para ser julgada. Entende a senhora que isso seria «uma imoralidade». Muito bem, então concluimos que:

1) É completamente ético ser candidata à presidência da câmara quando impendem sobre ela acusações gravíssimas precisamente relacionadas com a gestão da dita (embora ela não tenha dado a certeza de que será candidata)

2) Fugir para o Brasil para não ser presa preventivamente não é nenhuma imoralidade

E desconfiamos que:

1) Os felgueirenses podem ser suficientemente corporativistas para a elegerem de novo

2) Fátima achará normal, caso seja condenada, gerir a câmara ali a partir de Tires, ou assim

3) Fátima, se condenada, será incapaz de fugir para o Brasil. Seria uma imoralidade. (Porque agora já assume que «a fuga talvez não tenha sido a melhor opção». Mas voltar já... tá quieto!)

Deixa lá, filha...

Foto AFP

Quando estava a menos de uma unha negra do número 1 do WTA, Maria Sharapova lesionou-se. E ontem estava mais grave que hoje, porque falavam de... lesão no peito. Ora bolas, isso também não! Hoje a maleita já vai no ombro, para bem dos nossos pecados.

Deixa lá, Maria, cá prá gente já lá vão uns meses que estás em primeiro...

12 agosto 2005

La Palice; ou La Palisse, escolham

O que me custa mesmo no Verão, além do calor em excesso que nunca mais passa, é jamais me espantar com os estudos que provam ser Portugal o país europeu com maior área ardida. Se pelo menos pudéssemos dizer «a sério? como é possível? que surpreendente, com todos os cuidados que eles tiveram depois da catástrofe do ano passado...»

Eu sei que os argumentos estão estafados e o assunto não é novo nem tem muitas voltas a dar. Mas pronto, apeteceu-me deixar também um protesto. Ai se valesse de alguma coisa...

«Eh pá, no meu tempo...»

Se acreditarmos em tudo o que todas as «velhas guardas» foram dizendo ao longo dos anos, dos séculos, concluímos através de dedução lógica que ninguém interpretava melhor o mundo nem as suas necessidades do que... sei lá, o Homem de Neanderthal. O «no meu tempo é que era bom» constitui, provavelmente, o maior factor da paralisação portuguesa. E irrita-me, sobretudo, quando aparece escrito nos jornais naquele jeito lamechas de quem não sabe mais o que dizer.

A quem teclava máquinas de escrever e hoje desdenha os computadores nunca ocorreu, decerto, que antes de si havia quem escrevesse à mão. Seremos piores, hoje, por não sujarmos as mãos de tinta nas tipografias? Ah, malditas máquinas de calcular que tiraram a tabuada às criancinhas! (Por acaso sei-a todinha e acho importante, sem ter por isso que fazer todas as minhas contas à mão) Oh, odiosa internet que já nem obriga a saber de cor os nomes dos rios ! (Das linhas férreas não vale a pena, porque já quase não existem, mesmo).

O chato, para a malta «da velha guarda», é que exceptuando talvez a comida e tudo o que tem a ver com ordenamento do território, as coisas são de uma forma geral muito melhores hoje do que no tempo das pharmacias que não vendiam preservativos nem pílulas. Se o meu filho pode começar a jogar com uma bola de couro por que há-de ter de passar pelas de trapos?

Eu cá gosto de brincar com essas coisas do «quando era novo». Mas só mesmo brincar. Na verdade, quando for grande, só espero lembrar-me que um dia fui novo e antes de mim estavam cá outros que diziam «no meu tempo é que era bom». Irra!

Obrigatório ler

Quem gostar de ler Português faça o favor de arranjar dez minutos, ir aqui, entrar no arquivo de Maio, descer um pouco e deter-se num texto com o título «Rosebud». És tão bom, caraças! Obrigado a ti também.

Olha o irlandês, olha...

Diz uma personagem (desculpem lá, aprendi que se escreve e diz sempre no feminino) de um dos contos de Os Homens Bronzeados Ficam Bonitos, de Frank Ronan (original de 1989, 2.ª edição Gradiva, 1998, tradução de Maria do Carmo Figueira):

«- Acho que os Portugueses estiveram tanto tempo embrutecidos que desde a revolução descobriram que não lhes resta senão a bondade e a sinceridade.»

Vivo, o irlandês (recomendo toda a obra)! Só ainda não percebi se isto é um elogio...

Voltarás, capitão

Sem génios, a humanidade não avançava. Sem trabalho também não, claro. Cada um com seu mister. O Pedro Barbosa, além de genial, trabalhou sempre muito mais do que grande parte das pessoas julgava. Só não tinha aquela coisa de ser certinho como um relógio. Ainda bem. Mesmo irritando, às vezes, por querer fazer tão bem e depois falhar, mostrou-me das coisas mais bonitas que se podem fazer em relvados de futebol.

Há dias vi-o na rua, com os filhos. Apesar de nos termos cruzado profissionalmente, não nos conhecemos. Ou melhor, ele não me conhece a mim, claro! Apeteceu-me detê-lo e dizer «obrigado, capitão, sei que voltarás». Digo agora.

11 agosto 2005

Em defesa do futebol

Fui levar a criança à creche e até ia dormir mais um pouquito, mas não consigo sem antes escrever isto:

A UEFA devia criar uma nova competição apenas para as equipas italianas, o Chelsea, o Liverpool e o Boavista. Ganhava quem fizesse mais de cinco ataques por jogo, com um mínimo de três remates e dois cantos. Menos de 30 faltas por jogo seria motivo de anulação.

Assim, quem gosta de um futebol baseado na ideia de dois meios-campos, duas balizas, emoção, incerteza, espectáculo e etc. voltava a ter competições europeias à sua medida.

Pronto: com estas breves linhas e um ou dois kompensans fico como novo depois de ontem à noite...

10 agosto 2005

Bom dia, como está, passou bem?

À parte questões de educação, cortesia e boa convivência, não há realmente nenhuma razão especial para um vizinho me dizer bom dia nas escadas.

Na verdade, se no meu país há crianças nas fábricas e bancos de escola vazios; se os motoristas fumam dentro dos táxis; se os automobilistas não respeitam filas de trânsito e se metem à má-fila à frente de quem já lá está; se nos meus passeios há cocó de cão e rodas de jipes que só por serem de jipes têm de estar estacionadas de forma viril; se nas minhas ruas há carros parados em cima das passadeiras ou a obstruir passagens de carrinhos de bebés e cadeiras de rodas; se na minha cidade o Santana Lopes foi presidente de câmara; se no meu ecoponto há lixo orgânico; se nos meus contentores de lixo orgânico há vidro, plástico, papel, cartão e pilhas; se no meu governo o Santana Lopes foi primeiro ministro; se nas minhas auto-estradas se anda a 250 km/h; se das janelas dos automóveis saltam para o chão papéis e cascas de fruta; se no aeroporto da minha capital os portugueses fumam, mesmo sendo proibido, ao contrário do que fazem quando vão «lá fora»; se na minha televisão um conde hermafrodita e um actor porno se transformam em figuras nacionais; se num café da minha cidade a empregada recusa-se a lavar o biberão da filha da Simara; se na minha área profissional o jornal que mais sobe as vendas conta sobretudo estas histórias inúteis; se no partido que apesar de tudo mais respeito há um pretendente a dinossauro que duvida da existência de uma ditadura na Coreia do Norte; se noutro partido o Santana Lopes chegou a presidente; se nas minhas pontes há carros alterados a fazer corridas; se no clube de que gosto um presidente rico só fala de árbitros, perseguições e sistemas; se noutro clube de que gosto menos o director-geral diz «gánhemos» e pede que os sócios «estejem descansados» porque haverá ponta-de-lança novo; se numa empresa onde já trabalhei uma mulher não é aumentada dois anos porque teve um filho; se enquanto espero um barco não me dão lugar mesmo tendo um bebé ao colo; se três desses lugares são ocupados por um homem de camisola de alças que está a cortar as unhas dos pés à mulher de cabelo pintado de louro; se o Santana Lopes ainda ameaça voltar...

Se tudo isto e tanto mais, por que hei-de estranhar se um vizinho não me fala nas escadas do meu prédio?

09 agosto 2005

Bons tempos, os da camada de ozono

Diz, com algum a-propósito, o comentador da Eurosport, enquanto um verdadeiro dilúvio se abate sobre Helsínquia e obriga a paragem dos Mundiais de atletismo: «Não nos lembramos de isto alguma vez ter acontecido na história da prova.»

Pois. Ele, como a maioria de nós, ainda é do tempo em que havia camada de ozono, temperaturas médias um grau abaixo das actuais, Verão, Outono, Inverno, Primavera... Coisas boas que a Natureza nos deu e nós lhe tirámos. Assim como as florestas portuguesas, estão a ver?

Eu sei que isto soa um bocado inocente, mas juro que gostava de ter a certeza de que o meu filho e os filhos dele terão ar decente para respirar. E não tenho. É pena.

O génio e a morte

Já que tenho de morrer, não me importava que alguém me descrevesse assim essa hora:

«(...) E a vela à luz da qual Ana lera o livro da Vida, com todos os seus tormentos, todas as suas traições e todas as suas dores, resplandeceu, de súbito, com uma claridade maior do que nunca, alumiando as páginas que até então haviam estado na sombra. Depois crepitou, estremeceu e apagou-se para sempre.»

Leão Tolstoi, in Ana Karenina, Publicações Europa -América, 2003, tradução de João Netto

Reabrimos!

Passei mais de uma hora a colocar aqui posts atrasados, de outras paragens, mas não vale a pena perder muito tempo com eles. O que interessa é que este projecto de blogue está reaberto. Consegui, sozinho, mudar o aspecto da página e vai-se a ver um dia destes até aprendo a introduzir fotografias. A ver no que dá... Beijos e abraços aos poucos que por cá aparecerem.