28 março 2005

Terri, ainda

Não consigo parar de pensar em Terri Schiavo e no que o seu caso representa. Estou longe de ter grandes certezas, ao contrário do que o post de ontem pode fazer crer. Por isso volto ao tema: pensando bem, bem, bem temos de ter em atenção que o que lhe foi retirado foi... água e alimentos, ainda que estes apenas em forma líquida. Ou seja, não foi um ventilador ou qualquer outro meio que, artificialmente, a prendesse à vida. Ela vai morrer de fome e sede. Acredito que, como dizem os médicos, não sofrerá. Espero mesmo que não e continuo a pensar que a decisão dos juízes foi a melhor para toda a gente. Mas fiquei a matutar, de repente, que há grandes diferenças entre o caso de Terri e o de Ramón Sampedro, ou aquele da doce e dura personagem de Hillary Swank no Million Dollar Baby. A propósito: voto nele para filme da década, mesmo faltando cinco anos para esta terminar.

27 março 2005

Para que pôs ele a mão na bola?

A ver se me faço entender: diz a lei 12 do futebol que deve ser expulso um jogador «que impedir com a mão um golo ou uma oportunidade manifesta de golo». Dizem alguns entendidos que Seitaridis, no Sporting-FC Porto, não «impediu uma oportunidade manifesta de golo» porque Liedson ainda não tinha cabeceado e Jorge Costa estava no caminho. Ora, se Liedson já tivesse cabeceado fora do alcance de Jorge Costa e a bola fosse entrar na baliza, Seitaridis teria impedido «um golo» e não «uma oportunidade manifesta de golo». Não será precisamente para distinguir uma coisa de outra que ambas estão referidas na lei? Pergunta de algibeira para o final: se não foi para «impedir uma oportunidade manifesta de golo», então para que pôs Seitaridis a mão na bola? Apeteceu-lhe?

Terri, Ramón e D. José Policarpo

D. José Policarpo é um homem da Igreja com quem se pode conversar. Ou melhor, de quem se podem ouvir as ideias, visto que em boa verdade nunca tive o privilégio de falar com ele. Mesmo sendo moderno na sua visão do Mundo, não era justo esperar da parte dele outra coisa senão a condenação da eutanásia e do aborto. Mas dizer que «se está a acabar com a vida quando ela é exigente e difícil» parece-me um pouco redutor. Senhor cardeal, «exigente e difícil» é a vida de 95 por cento de nós. Não me parece propriamente a caracterização da «vida» de Terri Schiavo ou da existência de Ramón Sampedro, embora ao galego ainda lhe valessem a lucidez e a consciência. Olho para a fotografia da norte-americana no dia do seu casamento, no Público de hoje; lembro-me das imagens que têm aparecido na televisão daquilo que ela é actualmente e não hesito em concordar com os juízes. De boa vontade eu próprio lhe retiraria o tubo que a mantinha artificialmente ligada a qualquer coisa que não consigo chamar de vida. Mas respeito quem pense o contrário, a não ser, claro, George W. Bush, que há muito deixou de merecer o respeito dos outros.

16 março 2005

Bem-vindos sejais

Santana Lopes compõe os ralos cabelos, passa um pouco de lixa fina na cara de pau, ensaia ao espelho o sorriso de guerreiro cansado e volta à Câmara Municipal de Lisboa. Lembra que Jorge Sampaio também lá regressou depois de ter sido candidato a primeiro-ministro derrotado em legislativas. Pois, só não foi exactamente, um pouco antes, primeiro-ministro indigitado não se sabe bem por quem. Mas isso é um pormenor. Lopes garante que tinha alternativas mais vantajosas do ponto de vista financeiro. Pois claro. Aliás o mesmo se passa, dizem-me fontes insuspeitas, com os ex-assessores que vão desaguando nos antigos órgãos de comunicação social. Eles até podiam ficar melhor de massas, mas não há como o espírito de missão que os agarra à magia do jornalismo, não é? Sejam bem-vindos e já agora felicidades aos que partem para quatro anos de maioria mais estável, porque absoluta. Dignifiquem a classe. E não se preocupem: nós deste lado cá vos esperamos de braços abertos, cientes de que nunca serão capazes de misturar política com jornalismo.

E pagam-lhes para comentar, não é?

Dias Ferreira, Guilherme Aguiar e Fernando Seara (a ordem tem apenas a ver com o tema e as intervenções em questão) são pagos para comentar, com ar de comensais de café e cheios de private jokes, a pretensa «actualidade desportiva da semana» num programa televisivo de segunda-feira à noite do qual nem recordo o nome mas que me aconteceu nele esbarrar ontem mesmo. Adiante: Pedro Mourinho, o moderador, perguntou a Dias Ferreira o que tinha, afinal, ganho o Sporting em trocar Fernando Santos por José Peseiro. O ilustre sportinguista riu-se e disse que «está à vista», secundado por Guilherme Aguiar. Acrescentou Dias Ferreira que «é verdade que tinha mais pontos, mas onde é que já ia na corrida pelo título?» Pois bem: ia a sete pontos do então líder, FC Porto, apenas mais um do que os que o separam actualmente do Benfica. Com duas diferenças porventura determinantes: este ano há mais equipas entre o Sporting e o líder; e no ano passado ainda ia receber ambos os rivais históricos, enquanto este ano recebe o FC Porto e desloca-se ao terreno do actual primeiro classificado. Fernando Santos não é bem parecido (Peseiro também não, de facto) nem pertence à alegada nova vaga de treinadores portugueses cheios de modernidade e fatos Armani. Mas escusava de pagar pelo que fez e pelo que não fez. É certo que no fim das contas ficou em terceiro lugar; mas Peseiro arrisca-se a muito pior (embora possa igualmente ganhar). E nesta altura do campeonato tinha tantas ou mais hipóteses de êxito que a actual equipa. Com outras duas diferenças relevantes: mais 16 pontos conquistados e o melhor FC Porto de sempre pela frente. Querem pagar-me para falar de algo que não domine muito bem, embora possa ter vagas ideias? Aceito propostas.